Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

Ela sorriu e apontou para o mar.
Era aí que estavam. Na areia escaldante que se estendia em ambas as
direcções, tão longe quanto a vista alcançava sob a neblina de calor. Havia
banhistas deitados ao sol; vendedores de praia a arrastarem-se pela areia solta,
curvados sob o peso de caixas frigoríficas e sacos de fruta; barmens que
sorriam atrás de bares improvisados por onde o samba irrompia de colunas
colocadas sob telhados de colmo; e surfistas com o equipamento amarelo
nacional, os lábios pintados de branco com óxido de zinco. E duas pessoas
que caminhavam para sul de sapatos na mão. Uma de calções, um top curto e
um chapéu de palha que pusera no hotel, a outra ainda de cabeça descoberta
com um fato de linho amarrotado.


– Ela disse treze quilómetros? – perguntou Harry, a soprar as gotas de suor
que lhe pendiam da ponta do nariz.


– Vai escurecer antes de voltarmos – disse Beate, a apontar. – Olha, estão
todos a ir-se embora.


Havia uma longa fila ao longo da praia, uma aparentemente interminável
caravana de pessoas a caminho de casa com o sol da tarde a bater-lhes nas
costas.


– Mesmo aquilo que pedimos – disse Harry, a endireitar os óculos escuros.
– Uma fila de toda a população de d’Ajuda. Vamos ter de nos manter atentos.
Se não virmos Muhammed, talvez tenhamos sorte e encontremos Lev em
pessoa.


Beate sorriu.
– Aposto cem kroner em como não o encontramos.
Os rostos pareciam tremeluzir sob o calor. Rostos pretos, brancos, jovens,
velhos, belos, feios, pedrados, sóbrios, sorridentes, trocistas. Os bares e os
quiosques de aluguer de equipamento de surf tinham desaparecido. Agora
apenas se via a areia e o mar à esquerda, e uma densa vegetação tropical à
direita. Aqui e ali, havia pessoas sentadas em grupos com o indisfarçável
cheiro de charros a erguer-se do meio delas.


– Estive a pensar melhor na história do espaço íntimo e na nossa teoria de
um contacto interno – disse Harry. – Achas que a relação entre Lev e Stine
Grette era mais do que a de simples cunhados?


– Queres dizer, se ela poderia ter estado envolvida no planeamento e depois
ele a tenha abatido para cobrir o rasto? – Beate olhou para o Sol. – Bom,
porque não?

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