– Ok. Estás nalgum lugar seguro?
– Acho que sim.
– Óptimo.
Em fundo, uma voz russa aparecia e desaparecia, como uma estação de
rádio de onda curta.
– Porque é que não me podes garantir que não estamos em perigo, Harry?
Diz-me que é apenas a tua imaginação, que estão a fazer bluff ... – A voz dela
tornou-se ansiosa. – ... Qualquer coisa.
Harry demorou algum tempo a responder. Depois disse numa voz clara e
lenta:
– Tens de te sentir assustada, Rakel. Suficientemente assustada para fazeres
o que está certo.
– E isso é?
Harry engoliu em seco.
– Eu vou tratar das coisas. Prometo. Vou tratar das coisas.
Harry ligou a Vigdis assim que Rakel desligou. Ela atendeu ao primeiro
toque.
– Daqui fala Hole. Está sentada junto ao telefone à espera de alguém, fru
Albu?
– O que é que acha? – Harry conseguiu perceber pelo discurso arrastado
que ela bebera, pelo menos, umas duas bebidas desde que ele saíra de sua
casa.
– Não faço a mínima ideia, mas gostaria de que reportasse o
desaparecimento do seu marido.
– Porquê? Não sinto a falta dele. – Soltou uma gargalhada curta, triste.
– Bem, eu preciso de um motivo para colocar em acção o mecanismo de
busca. Pode escolher. Ou reporta o seu desaparecimento, ou anuncio que ele
está a ser investigado. Por homicídio.
Seguiu-se um longo silêncio.
– Não compreendo, senhor agente.
– Não há muito para compreender, fru Albu. Devo dizer que o reportou
como desaparecido?