O
33
Disosmia
trânsito de hora de ponta da tarde começara e os escravos de salários
arrastavam-se nos seus carros pela Grønlandsleiret abaixo, passando pelo
Quartel-general da Polícia. Uma carriça empoleirada num ramo viu a última
folha a soltar-se, levantou voo e passou a voar pela janela da sala de reuniões
do quinto piso.
– Não sou um orador público – começou Bjarne Møller, e aqueles que
tinham ouvido anteriores discursos de Møller concordaram.
Uma garrafa de espumante Opera, que custava setenta e nove kroner,
catorze copos de plástico – ainda na embalagem – e todos aqueles que tinham
estado envolvidos no caso do Executor esperavam que Møller acabasse de
falar.
– Antes de mais, gostaria de transmitir os meus sinceros cumprimentos ao
Conselho Municipal de Oslo, ao mayor e ao superintendente-chefe, e
agradecer a todos os outros por um trabalho bem-executado. Como sabem,
estivemos sob uma enorme pressão quando nos apercebemos de que
estávamos a lidar com um assaltante de bancos em série...
– Não sabia que havia outros géneros! – gritou Ivarsson e foi recompensado
com uma vaga de gargalhadas. Encontrava-se nas traseiras da sala junto à
porta, onde tinha uma vista geral de todos os agentes reunidos.
– Bem o podes dizer. – Møller sorriu. – Aquilo que queria dizer era... hm...
como sabem... estamos satisfeitos que tudo isto esteja terminado. Antes de
bebermos uma taça de champanhe, gostaria de fazer um agradecimento
especial à pessoa que deve ficar com a maior parte do mérito...
Harry sentiu todos os outros a olhar para ele. Odiava aquele tipo de
ocasiões. O discurso do chefe, discursos ao chefe, agradecimentos ao palhaço,
o teatro da trivialidade.
– Rune Ivarsson, que conduziu a investigação. Parabéns, Rune.
Uma série de aplausos.
– Gostarias de dizer algumas palavras, Rune?