Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

– Não – murmurou Harry, por entre dentes cerrados.
– Gostaria, sim – respondeu Ivarsson. Os agentes reunidos esticaram o
pescoço. Pigarreou. – Infelizmente, não tenho o privilégio de poder dizer
como tu o fizeste, Bjarne, que não sou um orador público. Porque o sou. –
Mais gargalhadas. – E a partir da minha experiência como orador na
conclusão bem-sucedida de outros casos, sei que é cansativo agradecer a
todos sem excepção. Como todos sabem, a investigação é um trabalho de
equipa. Beate e Harry tiveram a honra de marcar o golo, mas foi a equipa que
fez o trabalho de campo.


Harry observou, descrente, os agentes reunidos a assentirem.
– Por isso, obrigado a todos. – Ivarsson passou o olhar sobre os agentes,
com a intenção evidente de fazer com que cada um deles sentisse que lhes
estava a agradecer. Depois num tom menos solene, gritou: – Vamos abrir o
champanhe ou não?


Alguém lhe passou a garrafa e, depois de a agitar bem, começou a soltar a
rolha.


– Não quero incomodar-me com isto – segredou Harry a Beate. – Vou-me
embora.


Ela lançou-lhe um olhar reprovador.
– Cuidado! – A rolha soltou-se e voou até ao tecto. – Peguem todos num
copo!


– Desculpa – disse Harry. – Vemo-nos amanhã.
Dirigiu-se ao seu gabinete e pegou no casaco. Ao descer no elevador,
encostou-se à parede. Na noite anterior dormira apenas duas horas, no chalé
de Albu. Às seis da manhã, conduzira até à estação ferroviária de Moss,
encontrara uma cabine telefónica, o número da polícia de Moss e reportara o
corpo no mar. Sabia que iam pedir assistência à polícia de Oslo. Quando
chegou a Oslo às oito horas, sentou-se no Kaffebrenneriet em Ullevålsveien e
bebeu um cortado até ter a certeza de que o caso fora entregue a outros e que
poderia voltar ao gabinete em paz.


O elevador abriu-se e Harry saiu do edifício pelas portas giratórias. Para o
ar frio e límpido de Oslo, que se dizia ser mais poluído do que o ar de
Banguecoque. Pensou que não havia grande pressa e forçou-se a abrandar.
Naquele dia não queria pensar em nada, apenas dormir e não sonhar. E
esperar que no dia seguinte todas as portas se tivessem fechado atrás dele.

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