Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

Todas excepto uma. Aquela que nunca se fechava, aquela que ele não
queria que se fechasse. No entanto, só iria pensar nisso no dia seguinte.
Depois iria passear com Halvorsen ao longo do rio Akerselva. Parar junto do
candeeiro onde a tinham encontrado. Reconstruir pela centésima vez aquilo
que acontecera. Não porque se tivessem esquecido de alguma coisa, mas para
recuperar a sensação, o cheiro nas narinas. Já estava a temê-lo.


Atravessou pelo carreiro estreito no relvado. O atalho. Não olhou para o
edifício prisional cinzento à sua esquerda. Onde era possível que, de
momento, Raskol tivesse arrumado o jogo de xadrez. Nunca iriam encontrar
nada em Larkollen ou em qualquer outro sítio que apontasse para o cigano ou
para algum dos seus homens, mesmo que fosse o próprio Harry a ficar com o
caso. Tinham de continuar durante o tempo que fosse necessário. O Executor
estava morto. Arne Albu estava morto. A justiça é como a água , dissera Ellen
uma vez. Encontra sempre uma saída . Eles sabiam que não era verdade mas,
pelo menos, era uma mentira na qual, de vez em quando, podiam encontrar
algum consolo.


Harry ouviu as sirenes. Já há algum tempo que as estava a ouvir. Os carros
brancos com luzes azuis giratórias passaram por ele e desapareceram pela
Grønlandsleiret. Tentou não pensar no motivo por que tinham sido chamados.
Provavelmente nada que lhe dissesse respeito. Se dizia, teria de esperar. Até
ao dia seguinte.


Tom Waaler percebeu que era demasiado cedo. Os residentes do edifício
amarelo-claro faziam outras coisas e não ficavam sentados em casa durante
todo o dia. Acabara de pressionar o botão no fundo da fileira. Virou-se para se
afastar quando ouviu uma voz enlatada, metálica:


– Sim?
Waaler voltou-se.
– Olá, estou a falar com...? – Olhou para a placa do nome ao lado do botão.
– Astrid Monsen?


Vinte segundos depois estava no patamar a olhar para um rosto assustado e
sardento que o espreitava, escondido atrás da corrente de segurança.


– Posso entrar, frøken Monsen? – perguntou, mostrando os dentes num
sorriso David Hasselhoff especial.


– Preferia que não o fizesse – guinchou ela. Provavelmente nunca vira as
Marés Vivas.


Ele mostrou-lhe o   distintivo.
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