– Eu...
– Vamos. Agora.
O abraço quente da água fê-lo estremecer de prazer. As carícias
continuaram a subir-lhe pelas coxas acima até lhe atingirem as ancas, e
cobriram-lhe a pele de arrepios. Resmungou. Depois baixou o resto do corpo
para dentro da água a ferver e recostou-se.
Ouvia a chuva a cair no exterior e tentou distinguir o som dos movimentos
de Vigdis Albu, mas ela pusera um disco. Police. Greatest Hits , para coroar
tudo aquilo. Fechou os olhos.
Sting estava a enviar um SOS. E ao pensar nisso, lembrou-se de que Beate
já devia ter lido o e-mail . Já devia ter passado a mensagem e a perseguição já
devia ter terminado. O álcool fizera com que as pálpebras lhe pesassem, mas
de cada vez que fechava os olhos via duas pernas e sapatos italianos feitos à
mão a saírem da água quente e fumegante do banho. Procurou atrás da cabeça
o copo que colocara na borda da banheira. Quando ligara a Beate do
Schrøder’s tinha bebido apenas duas canecas de cerveja, e isso não estava
nem de longe próximo da anestesia de que precisava. Mas onde estava o
maldito copo? Perguntou-se se seria Tom Waaler que o estava a caçar. Sabia
que ele devia estar ansioso por fazer aquela prisão. Mas Harry só se iria
entregar quando todos os pormenores do que acontecera se encontrassem em
segurança. A partir daquele momento, não se podia dar ao luxo de confiar em
ninguém. Iria resolver as coisas. Mas primeiro, algum tempo longe de tudo.
Outra bebida. Perguntar se podia dormir ali, naquela noite. Uma cabeça
limpa. Amanhã.
A mão atingiu o copo de cristal pesado, e aquele aterrou no chão lajeado
com um som surdo.
Harry praguejou e levantou-se. Quase caiu, mas no último momento
conseguiu agarrar-se à parede. Atou uma toalha grossa e felpuda à volta da
cintura, e dirigiu-se à sala de estar. A garrafa de gim ainda se encontrava em
cima da mesa de centro. Encontrou um copo no bar e encheu-o até à borda.
Ouviu a máquina de café. E a voz de Vigdis no vestíbulo. Voltou à casa de
banho e pousou cuidadosamente o copo ao lado da roupa que Vigdis deixara
ali para ele, um conjunto completo da colecção de Bjørn Borg em azul-claro e
branco. Limpou o espelho com a toalha e confrontou os próprios olhos na
faixa livre de condensação.
– Idiota – sussurrou.
Sentou-se no chão. Um riacho vermelho corria pela fissura entre os azulejos