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Waltzing Matilda
arry correu. O ladrar em staccato de Gregor era como um
metrónomo zangado em ruído de fundo, mas, para além disso, tudo quanto o
cercava permanecia em silêncio. Os pés nus escorregavam na relva molhada.
Estendeu os braços à sua frente enquanto atravessava outra sebe, mal sentindo
os espinhos a rasgarem-lhe as palmas das mãos e a roupa de marca Bjørn
Borg. Não encontrara a sua roupa nem os sapatos; calculou que Vigdis os
levara para o piso térreo onde estava sentada à espera. Enquanto procurava
outro par de sapatos ouvira Gregor a rosnar baixinho e tivera de fugir como
estava, apenas de calças e camisa. A água da chuva entrava-lhe nos olhos e as
casas, macieiras e arbustos desfocavam-se à sua frente. Outro jardim surgiu
de entre a escuridão. Correu o risco e saltou sobre a vedação baixa. Mas
desequilibrou-se. Correr com álcool no sangue. Um relvado bem aparado
ergueu-se e atingiu-o no rosto. Ficou ali deitado, à escuta.
Pensou que havia agora uma série de cães a ladrar. Estaria Victor ali? Tão
depressa? Waaler devia tê-los mantido de prevenção. Levantou-se e
perscrutou o local onde se encontrava. Estava no cimo da colina para a qual se
dirigira. Mantivera-se deliberadamente afastado das estradas iluminadas que
em breve carros da polícia estariam a patrulhar, e onde poderia ser facilmente
detectado. Viu a propriedade de Albu, junto à Bjørnetråkket. Havia quatro
carros no exterior do portão, dois deles com as luzes azuis a rodar. Olhou para
ambos os lados da colina. Chamava-se Holmen, ou seria Gressbanen? Algo
parecido com isso. Um carro civil estava estacionado em cima do passeio,
junto ao cruzamento com os faróis ligados. Harry fora rápido, mas Waaler
fora-o ainda mais. Apenas a polícia estacionava daquela maneira.
Esfregou o rosto com força. Tentou livrar-se do anestésico pelo qual ansiara
tão recentemente. Uma luz azul piscava entre as árvores em Stasjonsveien.
Fora apanhado na rede e esta já se começava a apertar. Não ia conseguir
escapar. Waaler era demasiado bom. Mas não estava a perceber muito bem o
que se passava. Aquele não podia ser um espectáculo a solo. Alguém devia ter
autorizado a utilização daqueles recursos enormes para prender um único
homem. O que é que acontecera? Não teria Beate recebido o e-mail que ele
lhe enviara?