Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

estivesse muito enganado, devia haver uma fotografia sua em cada carro da
polícia.


Harry avançou rapidamente até à porta, enfiou a chave de Raskol na
fechadura e virou-a. Tentou não fazer qualquer ruído no patamar. Havia um
jornal no exterior da porta de Astrid Monsen. Assim que entrou no
apartamento de Anna, fechou suavemente a porta atrás de si e respirou fundo.


Não penses naquilo que estás a procurar.
O apartamento cheirava a bafio. Dirigiu-se à divisão mais afastada. Nada
fora tocado desde a última vez em que ali estivera. A poeira dançava à luz do
sol que entrava pela janela e iluminava os três quadros. Parou em frente deles.
Havia algo de estranhamente familiar nas cabeças contorcidas. Aproximou-se
dos quadros e passou as pontas dos dedos sobre os montículos de tinta de
óleo. Se estavam a falar com ele, não compreendia o que queriam dizer.


Dirigiu-se à cozinha.
Cheirava a lixo e a gordura rançosa. Abriu a janela e vasculhou os pratos e
talheres que se encontravam no lava-loiça. Tinham sido enxaguados, mas não
lavados. Examinou os restos de comida endurecida com um garfo. Soltou uma
pequena partícula vermelha do molho. Enfiou-a na boca. Pimento japone.


Dois copos de vinho grandes atrás de uma caçarola. Um tinha no fundo um
sedimento vermelho e fino, enquanto o outro parecia não ter sido usado.
Harry enfiou o nariz no interior, mas apenas conseguiu sentir o cheiro morno
do copo. Ao lado dos copos de vinho, havia dois copos normais. Encontrou
um pano da loiça para poder erguer os copos contra a luz sem deixar
impressões digitais. Um estava limpo, o outro tinha um revestimento
pegajoso. Raspou o revestimento com a unha e sugou o dedo. Açúcar. Com
sabor a café. Coca-Cola? Harry fechou os olhos. Vinho e Coca-Cola? Não.
Água e vinho para uma pessoa. Coca-Cola e um copo que não fora usado para
a outra. Envolveu o copo no pano e enfiou-o no bolso do casaco. Seguindo
um impulso, dirigiu-se à casa de banho, desaparafusou a tampa do depósito
do autoclismo e tacteou o interior. Nada.


De regresso à rua, viu que tinham surgido nuvens a ocidente e o ar estava
mais frio. Mordeu o lábio inferior. Tomou uma decisão e encaminhou-se para
a avenida Vibes.


Harry reconheceu de imediato o jovem atrás do balcão da loja de chaves.
– Bom dia, sou da polícia – disse Harry, esperando que o rapaz não lhe
pedisse para ver a identificação que se encontrava no casaco que deixara em

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