Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

– Polícia! Agentes Hole e Lønn! – gritou Harry. – Tínhamos combinado
encontrarmo-nos. Podemos... Céus! – Harry não vira a bola até esta se enfiar
na vedação metálica com um som abafado, a poucos centímetros do seu rosto.
Limpou a água dos olhos e olhou para baixo. Fora salpicado com água suja,
de um castanho-avermelhado. Harry virou automaticamente as costas quando
viu o homem a lançar a bola seguinte.


– Trond Grette! – O grito de Harry ecoou entre os edifícios. Viram uma
bola de ténis a curvar-se num arco em direcção às luzes dos prédios antes de
ser engolida pela escuridão e aterrar algures no campo. Harry voltou a olhar
para o court , apenas para ouvir um rugido selvático e ver uma figura a correr
na sua direcção saída do escuro. A vedação metálica chiou ao absorver o peso
do jogador. O homem caiu de gatas na lama, levantou-se, começou a correr e
lançou-se de novo contra a vedação. Caiu, levantou-se e voltou a atirar-se.


– Meu Deus, ele enlouqueceu – sussurrou Harry. Recuou instintivamente
um passo quando um rosto branco com olhos esgazeados se ergueu à sua
frente. Beate acendera uma lanterna eléctrica e fê-la incidir em Grette, que
estava pendurado na vedação. Com o cabelo preto e molhado colado à testa
branca, parecia estar a procurar algo em que se focar enquanto escorregava
pela vedação como um pedaço de gelo no pára-brisas de um carro, até cair
inanimado no chão.


– O que é que fazemos agora? – murmurou Beate.
Harry sentiu os dentes morderem qualquer coisa e cuspiu para a mão. À luz
da lanterna viu gravilha vermelha.


– Chamas uma ambulância enquanto eu vou buscar um alicate ao carro –
disse.


– Então deram-lhe sedativos? – perguntou Anna.
Harry assentiu e bebericou a Coca-Cola.
A clientela jovem, da Zona Oeste, estava empoleirada em tamboretes junto
ao bar a beber vinho, bebidas cintilantes e Diet Coke. O M era como grande
parte dos cafés em Oslo – urbano de um modo provinciano e ingénuo, mas
também bastante agradável; o que fez Harry lembrar-se de Kebab, o rapaz
brilhante e bem-comportado da sua turma, que (tinham descoberto mais tarde)
tinha um livro com todas as expressões de calão que os miúdos in usavam.


– Levaram o pobre tipo para o hospital. Depois voltámos a falar com a
vizinha, e ela contou-nos que todas as noites desde que a mulher foi morta ele
ia até ali lançar bolas.

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