Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

– Não – acabou por responder. – Não sabia.
– Mas calculaste?
Ele levantou a cabeça e encontrou os olhos de Beate.
– Esse pensamento ocorreu-me. Só isso.
– O que é que te fez pensar isso?
– Penitência.
– Penitência?
Harry respirou fundo.
– Às vezes um crime é tão monstruoso que nos obscurece a visão. Externa
ou internamente.


– O que é que queres dizer?
– Todos têm necessidade de se penitenciarem, Beate. Tu também. Deus
sabe que eu tenho. E Raskol também. É uma necessidade básica, como
lavarmo-nos. Tem a ver com harmonia, um equilíbrio interior absolutamente
essencial. É o equilíbrio a que chamamos moral.


Harry viu Beate empalidecer. Depois corar. Ela abriu a boca.
– Ninguém sabe porque é que Raskol se entregou – continuou Harry. – No
entanto, estou convencido de que foi para se poder penitenciar. Para alguém
cuja verdadeira liberdade é a liberdade para deambular, a prisão é o
autocastigo derradeiro. Tirar uma vida é diferente de roubar dinheiro. Supõe
que ele cometeu um crime que fez com que perdesse o equilíbrio. Por isso
decidiu cumprir uma penitência secreta, por ele e por Deus... se é que tem
um.


Beate acabou por gaguejar as palavras:
– Um... assassino... moral?
Harry esperou. Mas não se seguiu nada.
– Uma pessoa moral é alguém que aceita as consequências da sua própria
moralidade – disse num tom de voz suave. – Não a dos outros.


– E se eu pusesse isto? – disse Beate num tom de voz amargo. Abriu a
gaveta à sua frente e tirou do interior um coldre de ombro. – E se eu me
fechasse numa das salas para visitantes com Raskol, e depois dissesse que ele
me atacou e que eu o abati em autodefesa? Para vingar o meu pai da mesma
maneira que lidamos com vermes. Isso é suficientemente moral para ti? –

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