Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

– Bem – disse Harry –, está na garagem. Veremos.
– Céus, oh céus. Agora pareces estar a falar de um velho amigo que foi
levado para o hospital com um tumor ou qualquer coisa do género. – E
acrescentou suavemente: – Não devias ter sido tão rápido a libertares-te,
Harry.


Ele não respondeu.
– Aqui estamos – disse ela. – De qualquer maneira, não te podes ter
esquecido disso, pois não? – Tinham parado junto a uma porta azul em
Sorgenfrigata.


Harry soltou-se suavemente dela.
– Ouve, Anna – começou e tentou ignorar o seu olhar de advertência. –
Tenho uma reunião com os investigadores da Brigada Criminal mesmo ao
início da manhã.


– Não disse nada – replicou ela, a abrir a porta.
Harry lembrou-se subitamente de uma coisa. Enfiou a mão dentro do casaco
e estendeu-lhe um envelope amarelo.


– Da loja de chaves.
– Ah, a chave. Estava tudo bem?
– O indivíduo atrás do balcão estudou muito atentamente a minha
identificação. E tive de assinar. Tipo estranho. – Harry olhou para o relógio e
bocejou.


– São muito rígidos na entrega das nossas chaves-sistema – disse Anna
apressadamente. – Servem para todo o prédio, para a entrada da rua, para a
cave, os apartamentos, tudo. – Soltou uma gargalha nervosa, automática. –
Têm de ter um formulário assinado pela cooperativa habitacional apenas para
fazer esta chave sobressalente.


– Compreendo – disse Harry, a balançar-se nos calcanhares. Respirou fundo
a preparar-se para se despedir.


Mas ela antecipou-se-lhe. A sua voz era quase suplicante.
– Apenas uma chávena de café, Harry.
Ainda lá estava o mesmo candelabro pendurado muito acima da mesma
mesa e cadeiras na enorme sala de estar. Harry pensou que as paredes eram
claras – brancas ou talvez amarelas –, mas não tinha a certeza. Agora eram
azuis e a sala parecia mais pequena. Talvez Anna tivesse querido reduzir o

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