Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

– Não. Disosmia. Não ser capaz de sentir o cheiro de cadáveres.
– O que é que queres dizer?
– Ontem estava de pé no vestíbulo a olhar para o primeiro e-mail que recebi
do assassino de Anna. Foi a mesma coisa que aconteceu com a placa na tua
porta. Os sentidos registam-no, mas o cérebro não. É isso que é a disosmia. O
print esteve ali pregado durante tanto tempo que deixei de o ver, tal como a
minha fotografia com Sis. Quando a roubaram, apenas reparei que havia algo
de diferente mas não reparei no que era. Sabes porquê?


Beate sacudiu a cabeça.
– Porque não me aconteceu nada que me fizesse ver as coisas de maneira
diferente. Vi apenas aquilo que presumi que estaria ali. No entanto, ontem
aconteceu uma coisa. Ali disse que viu as costas de uma mulher junto à porta
da cave. Fui de repente atingido pelo facto de sempre ter pensado que o
assassino de Anna era um homem, sem sequer me aperceber disso. Sempre
que cometemos o erro de imaginar aquilo que achamos que estamos a
procurar, não vemos as outras coisas que encontramos. Isso fez-me ver o e-
mail
com novos olhos.


As sobrancelhas de Beate formaram dois pontos de exclamação.
– Estás a querer dizer que não foi Alf Gunnerud quem matou Anna
Bethsen?


– Sabes o que é um anagrama, não sabes? – perguntou Harry.
– Um jogo de letras...
– O assassino de Anna deixou-me uma patrin . Um sinal. Vi-o no espelho. O
e-mail estava assinado com um nome de mulher. De trás para a frente. Por
isso, enviei o e-mail a Aune que contactou um especialista em linguagem e
psicologia cognitiva. De uma única frase numa carta ameaçadora anónima ele
é capaz de determinar o sexo, a idade e a origem da pessoa. Neste caso, foi
capaz de dizer que os e-mails foram escritos por uma pessoa de qualquer um
dos sexos, entre os vinte e os setenta, e eventualmente de qualquer lugar do
país. Por outras palavras, não foi de grande ajuda. Só que achava que podia
ser de uma mulher. Apenas por causa de uma única palavra. O e-mail diz «os
agentes da polícia» e não «vocês polícias», ou qualquer outro termo colectivo
não especificado. Ele disse que quem enviou o e-mail escolheu
inconscientemente o artigo masculino, para fazer uma distinção entre o sexo
do emissor e o do receptor.


Harry   recostou-se na  cadeira.
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