Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

H


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Ramona


arry encontrou Vigdis Albu na praia. Estava sentada na mesma rocha
macia em que ele adormecera, com as mãos a envolver os joelhos e a olhar
para o fiorde. Sob a neblina matinal, o Sol assemelhava-se a uma cópia pálida
de si mesmo. Gregor correu até junto de Harry, a sacudir a cauda. A maré
estava baixa, e o mar cheirava a algas e a óleo. Harry sentou-se numa rocha
pequena atrás dela e tirou um cigarro.


– Foi você que o encontrou? – perguntou ela, sem se voltar.
Harry perguntou-se há quanto tempo é que ela estaria à sua espera.
– Muitas pessoas encontraram Arne Albu – respondeu. – Eu fui uma delas.
Ela acariciou uma madeixa de cabelo que dançava ao vento, em frente do
seu rosto.


– Eu também. Mas isso foi há muito, muito tempo. Pode não acreditar em
mim, mas outrora amei-o.


Harry acendeu o isqueiro.
– Porque é que não haveria de acreditar em si?
– Pode acreditar no que quiser. Nem todos conseguem amar. Nós, e eles,
podemos acreditar nisso, mas essa é que é verdade. Eles aprendem os
movimentos, as deixas e os passos, apenas isso. Alguns deles são tão bons
que nos conseguem enganar durante algum tempo. Aquilo que me surpreende
não é que sejam bem-sucedidos, mas que se dêem a esse trabalho. Para quê
esforçarem-se tanto para que um sentimento seja correspondido quando não o
compreendem? Percebe o que estou a dizer, senhor agente?


Harry não respondeu.
– Talvez estejam apenas assustados – disse ela, virando-se para ele. – Por se
verem ao espelho e descobrirem que são deficientes.


–   Está    a   falar   de  quem,   fru Albu?
Ela virou-se de novo para a água.
– Quem sabe? Anna Bethsen? Arne? De mim? Na pessoa em que me
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