– Ele tem um escritório em casa e foi muito compreensivo. Comparou o
caderno e a carta de suicídio com isto. – Harry desdobrou uma folha de papel
e estendeu-a sobre o escorredor da loiça. – O café vai demorar?
– O que é que é assim tão urgente? – perguntou Beate, debruçando-se sobre
a folha.
– Tudo – disse Harry. – A primeira coisa que tens de fazer é voltares a
verificar todas as contas bancárias.
Else Lund, a gerente da Agência de Viagens Brastour – e uma de dois
funcionários –, era por vezes despertada a meio da noite por um cliente no
Brasil que fora roubado, ou perdera o passaporte e bilhetes, e no seu
desespero lhe ligava para o telemóvel sem se lembrar da diferença horária.
Por isso, ela desligava-o sempre que se deitava. Foi por esse motivo que ficou
furiosa quando o telefone da rede fixa tocou às cinco e meia da manhã, e a
voz na outra extremidade perguntou se ela poderia ir ao escritório o mais
depressa que lhe fosse possível. Apenas ficou ligeiramente menos furiosa
quando a voz acrescentou que era da polícia.
– Espero que seja uma questão de vida ou de morte – disse Else Lund.
– É – disse a voz. – Mais de morte.
Normalmente Rune Ivarsson era o primeiro a chegar ao escritório. Olhava
pela janela. Gostava da tranquilidade, de ter o piso inteiro só para si, mas não
era por esse motivo. Quando os outros chegavam, Ivarsson já tinha lido todos
os faxes, os relatórios da noite anterior, todos os jornais, e tinha o avanço de
que necessitava. Quando se era o chefe, tinha sempre de se estar um passo à
frente dos acontecimentos – estabelecer-se um posto avançado para se obter
uma perspectiva melhor. Quando os seus subordinados da divisão
expressavam a frustração periódica que a administração lhes estava a
esconder informações, era porque não compreendiam que conhecimento é
poder, e que, qualquer equipa de administração, tem de ter poder para planear
o caminho que acabará por fazer com que um caso seja solucionado. Na
verdade, era apenas para seu próprio proveito que a administração possuía um
conhecimento maior. Quando dera instruções a todos aqueles que trabalhavam
no caso do Executor para reportarem directamente a ele, fora exactamente por
esse motivo, para manter a informação onde ela pertencia em vez de
desperdiçar tempo em intermináveis discussões plenárias, que apenas serviam
para dar aos subordinados a sensação de que eram participantes no processo.
Naquele momento era mais importante que ele, como chefe da Unidade,