– Mas acabou de responder que não ficou surpreendido.
Harry inclinou a cadeira para trás.
– Sou agente da polícia já há muito tempo, senhor juiz. Já não fico
surpreendido quando as pessoas fazem coisas estranhas. Nem sequer quando
são assassinos.
Valderhaug voltou a colocar os óculos no nariz, e Harry pensou detectar um
sorriso brincalhão a cercar a boca no rosto enrugado.
Ola Lunde pigarreou.
– Como sabe, o inspector Tom Waaler foi suspenso durante um breve
período de tempo no ano passado, devido a um incidente semelhante
enquanto prendia um jovem neonazi.
– Sverre Olsen – disse Harry.
– Nessa altura, a SEFO concluiu que não existiam bases suficientes para
que o Ministério Público apresentasse queixa.
– Vocês apenas deliberaram durante uma semana – disse Harry.
Ola Lunde ergueu uma sobrancelha a Valderhaug, que assentiu.
– Apesar disso – continuou Lunde –, é naturalmente suspeito que o mesmo
homem se encontre de novo na mesma situação. Sabemos que existe uma
enorme solidariedade entre os agentes da polícia, e que estes se sentem
relutantes em colocar um colega numa situação difícil por meio de... hm...
hm...
– Denúncias – disse Harry.
– Desculpe?
– Acho que a palavra que estava a procurar era «denúncia».
Lunde voltou a trocar um olhar com Valderhaug.
– Sei o que quer dizer, mas nós preferimos chamar-lhe a apresentação de
informações relevantes para garantir que os regulamentos são cumpridos.
Concorda, Hole?
A cadeira de Harry aterrou sob as pernas da frente com estrondo.
– Sim, concordo. Só não sou tão bom com palavras como vocês.
Valderhaug não conseguiu continuar a esconder um sorriso.
– Não tenho assim tanta certeza disso, Hole – disse Lunde, que também