começara a sorrir. – É bom que estejamos de acordo, e como você e Waaler
trabalham juntos há muitos anos, gostaríamos de o utilizar como testemunha
de carácter. Tivemos aqui outros agentes que falaram do estilo
descomprometido de Waaler ao tratar de criminosos e por vezes não
criminosos. Consegue imaginar que Tom Waaler possa ter abatido Alf
Gunnerud num momento de precipitação?
Harry lançou um olhar demorado pela janela. Mal conseguia ver a silhueta
do Ekeberg por entre a queda de neve. Mas sabia que estava lá. Ano após ano,
sentara-se atrás da sua secretária no Quartel-general da Polícia e o Ekeberg
sempre ali estivera, e sempre estaria, verde no Verão, preto e branco no
Inverno, não podia ser mudado e isso era um facto. O que os factos tinham de
bom é que não se tem de pensar se são desejáveis ou não.
– Não – disse Harry. – Não consigo imaginar Tom Waaler a atirar contra
Alf Gunnerud, num momento de precipitação.
Se algum dos membros do painel da SEFO reparou no ligeiro ênfase que
Harry dera à palavra «precipitação», não o mostrou.
No corredor, Weber levantou-se assim que viu Harry sair.
– O próximo, por favor – disse Harry. – O que é que tens aí?
Weber levantou um saco plástico.
– A arma de Gunnerud. Vou ter de entrar e acabar com isto.
– Hm. – Harry tirou um cigarro do maço. – Arma invulgar.
– Israelita – disse Weber. – Uma Jericho 941.
Harry ficou a olhar para a porta quando esta bateu atrás de Weber, até
Møller passar por ele e chamar-lhe a atenção para o cigarro apagado que tinha
na boca.
A Unidade de Assaltos estava estranhamente silenciosa. A princípio os
detectives tinham gozado e dito que o Executor entrara em hibernação, mas
agora diziam que ele fora abatido e enterrado num lugar secreto para assim
conseguir um estatuto de lenda eterna. A neve acumulava-se nos telhados por
toda a cidade, deslizava e caía neve mais recente enquanto o fumo se erguia
pacificamente das chaminés.
As três unidades do Quartel-general da Polícia prepararam uma festa de
Natal no refeitório. Foram decididas as mesas e Bjarne Møller, Beate Lønn e
Halvorsen acabaram sentados ao lado uns dos outros. Entre eles, uma cadeira
vazia e um prato com o nome de Harry num cartão.