o Mal do Rei^24 , incluindo aquele que roçou as chagas no rosto de Sua Majestade?
- A peste aumenta, então? – perguntou Frances, suprimindo um calafrio de medo.
- Dentro do palácio fala-se da guerra; lá fora teme-se mais a peste.
Frances sorriu amargamente perante a ideia de ficar a embelezar a corte. No entanto, sabia
que era assim que deveria representar o seu papel. Deveria mostrar-se alegre como uma
borboleta colorida e convencer o rei de que o duque de Richmond não era nem um inimigo nem
um rival – na verdade, que não significava nada para ela.
Com esse intuito, desencantou o seu vestido mais aparatoso, feito com catorze jardas do
gorgorão mais fino que existia, num tom de amarelo que lhe realçava a frescura da pele e
completava o brilho dos caracóis. Pediu à criada de vestir que fosse buscar os brincos que o rei
lhe oferecera no Dia de São Valentim. - Está encantadora como o primeiro dia de primavera, senhora – proclamou a criada, com
uma poesia inusitada. - Obrigada – riu-se Frances, apreciando o reflexo da jovem deslumbrante que a fitava no
espelho.
Primeiro, cearia; depois juntar-se-ia aos restantes nos aposentos de Lady Castlemaine.
Barbara, com o seu instinto natural para o espetáculo e a ostentação, instalara os cantores
italianos da barcaça no balcão da sala de jantar, onde eles presenteavam com música a
assembleia ali reunida, como anjos numa nuvem. Iluminada por inúmeras velas, a cena parecia
de facto celeste – não fossem os decotes escandalosos das damas, que lhes expunham quase por
completo o peito, e os gritos dos galãs embriagados à medida que ganhavam ou perdiam ao
basset, enquanto Barbara não parava de lhes encher os copos, ora para celebrar, ora para
consolar.
Havia um grande monte de moedas no meio de uma mesa com tampo de baeta verde à qual
presidia o conde de Grammont, como um grande e calvo imperador. Não ficava atrás de
ninguém no que dizia respeito a aliviar os ricos do dinheiro que tinham, e os convidados de
Barbara pareciam ganhar e perder com igual despreocupação. Por um instante, Frances pensou
no irmão, chegando à conclusão de que ele seria um prémio demasiado pequeno para interessar
a de Grammont. - Vamos conversar um pouco, Mistress Stuart! – Ela virou-se da mesa de jogo e deparou-se
com o rei, de mão estendida, pelo que só poderia aceitá-la ou humilhá-lo. Pousou a mão na dele
e seguiu-o até uma alcova com um banco de janela de onde se via o rio. – Estou perdoado pelos
meus ciúmes? – perguntou ele com uma expressão tão modesta e amistosa que ela teve de lhe
corresponder. - Com certeza. – Ofereceu-lhe um sorriso doce. – Não havia motivo para isso, Vossa
Majestade. – Tocou nas pérolas dos brincos. – Não lhe agradeci a generosidade que teve no Dia
de São Valentim. - E, contudo, ouvi dizer que não queria aceitá-los e que foi necessária a insistência da
senhora sua mãe.
Frances ruborizou-se, ficando com o rosto de um cor-de-rosa delicado. Não havia grandes