Esboçou um sorriso ténue pela consideração de Frances, sabendo que uma criada colocaria
bem menos perguntas do que uma das suas aias.
Depois de saírem dos aposentos, Cary Frazier apertou o braço de Frances com tanta força
que esta quase deixou cair o triste embrulho.
- Poderia ter sido o futuro rei ou rainha de Inglaterra.
Ela acenou com a cabeça. - E agora enterramo-lo.
Foram buscar uma pá à cabana de um lenhador perto das nascentes e cavaram uma pequena
sepultura, suficientemente profunda para não ser descoberta nem profanada por predadores. - Não conheço as palavras do rito fúnebre – admitiu Frances com a voz a tremer e uma
lágrima a correr-lhe pelo rosto. Mas tinha de dizer alguma coisa, mesmo que não fossem as
palavras certas do ritual. – Dá eterno descanso a esta criança, ó Senhor.
Ambas inclinaram a cabeça, numa prece silenciosa.
As damas da rainha ficaram encantadas com a notícia de que se mudariam para Hampton
Court, já que os prazeres do campo, por deliciosos que fossem ao início, começavam a entediá-
las. Sentiam a falta do teatro, do burburinho dos mexericos e da proximidade das lojas de
miudezas e chapeleiros do Novo Mercado, bem como da presença de companhia masculina.
Todavia, a boa-disposição esmoreceu quando se aperceberam de que a rainha perdera o
ânimo e se mostrava silenciosa e abatida. Entreolhavam-se, curiosas, mas, por intuição feminina
e lealdade protetora, ninguém fez qualquer comentário, suspeitando existir uma ferida muito
profunda a justificar aquela alteração. Em vez disso, a condessa de Suffolk tornou-se ríspida
como uma galinha atarefada, instando-as a fazerem as malas, para estarem prontas para partir no
final da semana.
No dia da partida, Jane La Garde abordou Frances e sussurrou-lhe que Mary passava mal e
tinha pedido para a ver. - Mary, querida – chamou ao entrar no quarto, dado que este ainda estava às escuras, apesar
de o dia já ir adiantado. – Ainda não fez as malas? As carruagens estão à nossa espera.
Farejou o ar, pois um odor estranho e desconhecido chegou-lhe às narinas.
Continuando a não obter resposta, calculou que Mary ainda estivesse a dormir. Talvez
pudessem levá-la embrulhada num cobertor, para que dormitasse durante a viagem e acordasse
restabelecida em Hampton Court.
Frances ajoelhou-se no tapete junto ao catre estreito onde Mary dormia e abanou-a com
delicadeza. - Tem de acordar, querida Mary, ou seremos deixadas aqui.
Mary estava de facto a dormir. O seu cabelo encaracolado e castanho espalhava-se pela
almofada e os laços do camiseiro tinham-se desapertado, revelando-lhe a pele. Os cortinados
pesados que impediam toda a luz de entrar agitaram-se com a brisa do meio-dia e um feixe de
luz iluminou a cama, como se esta estivesse num palco.
Frances ficou sem ar e recuou.
Manchas vermelhas do tamanho de um cálice batismal marcavam a pele delicada do peito de