tranquilos com a família amável e generosa do vigário de St. Giles’ Camberwell, estava pronto
a viver uma aventura.
- Afinal, o que pode realmente acontecer-me? – perguntou, sorrindo a Ezekiel. – Não tenho
dinheiro que possa perder num jogo de cartas. Não posso esperar herança alguma, pelo que
ninguém me emprestará dinheiro a contar com a minha futura fortuna. É possível que beba
demasiado vinho branco das Canárias, mas isso valerá a pena para trocar algumas palavras
espirituosas com o famoso Lorde Rochester.
Ezekiel tentou lembrá-lo de que tinha, e com razão, desenvolvido uma certa desconfiança em
relação àquele cavalheiro corrupto, ainda que carismático, mas foi em vão.
Ele iria.
Assim, o duque apresentou à sua esposa um pretexto para se ausentar e, usando um manto e
uma peruca emprestada que lhe ocultava o cabelo característico, acompanhado apenas por um
criado, foi na noite seguinte para Camberwell. Ali, aguardou num beco que não distava mais de
cinquenta jardas do vicariato até os dois nobres chegarem.
À medida que a noite avançava e uma neblina fria e húmida se instalava, o duque começou a
recear que Hannah se tivesse enganado. Todas as luzes da casa já tinham sido apagadas, à
exceção da vela que a lei exigia permanecesse acesa, para que os transeuntes vissem o caminho.
Talvez Walter se tivesse juntado ao resto da família para as preces antes de se irem deitar.
No momento em que se espreguiçava e afagava o cavalo paciente, ouviu risos abafados. Uma
carruagem tinha parado ao fundo da rua, com cinco ou seis folgazães, que sussurravam e
brindavam com as suas garrafas. Uma cortina do piso térreo moveu-se, perto da vela isolada e,
pouco depois, Walter Stuart saiu da casa.
Duas coisas impressionaram o duque enquanto esperava. A comovente aparência do jovem
Walter e o quanto ele se assemelhava à irmã. Partilhavam o mesmo porte gracioso e hirto, com
uma frescura admirável que não provinha da inocência, o que poderia ser uma qualidade
fastidiosa, mas de uma franqueza amável, que não perdia tempo nem com fingimentos nem com
calculismos.
Walter entrou na carruagem.
Por um instante, o duque hesitou. E se Rochester agisse levado por motivos inocentes,
levando o rapaz apenas a um antro de bebida cheio de poetas e atores, onde mal algum poderia
afetá-lo?
Contudo, segundo a sua experiência, os motivos de Rochester raramente eram honestos ou
diretos.
O duque seguiu a carruagem a uma distância segura, à medida que aquela progredia para
Camberwell Green e daí para a Elephant and Castle, avançando então por Newington Causeway
até Borough High Street. Ali, suspirou de alívio. Encaminhavam-se para Bankside.
Dado o adiantado da hora, os espetáculos de acossamento de touros e ursos já teriam
terminado e todos os teatros estariam encerrados. Só os lupanares estariam a funcionar, com as
prostitutas a bocejar enquanto se preparavam para mais uma noite longa.
O duque desmontou e prendeu o cavalo a um poste junto às escadas de Bankside. Tinha uma