- Foi batizada em honra de Santa Teresa, Mistress Stuart? – perguntou-lhe Catarina,
referindo-se ao nome do meio de Frances. - Não há dúvida de que sou a única Teresa na minha família.
- É uma honra ter o nome de uma santa. Significa que ela intercederá por si em alturas de
necessidade.
A rainha esboçou um sorriso gentil. Frances perguntava-se se ela saberia da rixa da noite
anterior e, caso soubesse, se isso a tinha magoado ou se já estaria tão habituada que tais coisas
não a atingissem. - Encontro-me numa altura dessas, Majestade.
Catarina pousou o terço e virou-se para observar Frances. Tinha mais seis anos do que a sua
dama de companhia, mas possuía uma aura infantil que a fazia parecer muito mais nova. Em
parte isso era causado pela sua estatura. O alto da sua cabeça chegava apenas ao ombro de
Frances. Esta reparou que a rainha havia começado a usar o cabelo com madeixas caídas, o
estilo que a própria Frances havia tornado popular. - E o que desejaria que a santa a ajudasse a alcançar?
- Desejo desposar o duque de Richmond, Vossa Majestade, e obter permissão para deixar a
corte. - Serei uma senhora tão severa que a faça desejar partir? – perguntou Catarina, num tom
provocador. - É uma senhora encantadora. Tem sido uma honra servi-la.
- E eu tenho tido motivos para lhe estar grata.
Instalou-se o silêncio, no qual o bebé perdido e a perseguição do rei a Frances pairavam
como fantasmas. - Mas anseio por ter um lar que seja meu.
A rainha soltou um suspiro tão profundo que Frances percebeu, pela primeira vez, como ela
se deveria sentir por vezes. Longe da sua terra natal, obrigada a aprender uma língua estranha,
chocada com os valores da corte, tendo de fingir não ver as indiscrições do esposo enquanto
sabia que era impopular por não poder dar ao rei e ao seu povo aquilo que mais desejavam. - Está a pedir-me permissão para partir?
Frances assentiu com a cabeça. - Mesmo que eu concordasse, o meu marido terá maior dificuldade em fazê-lo. Ele não gosta
de ser abandonado. Não percebe que outra existência possa rivalizar com o engenho e a
excitação da corte. Lembro-me de que quando o duque de Newcastle, seu velho tutor e um
homem a quem ele muito admirava, expressou o desejo de viver no campo, o rei não lhe falou
durante três anos. Qual foi a resposta do rei ao seu pedido? - Banir o duque, Majestade, e ordenar-me que permanecesse em Whitehall.
- Seria essa a reação que esperaria dele, mesmo que não estivesse em jogo a outra questão.
Ambas sabiam que outra questão era essa e, por discrição, não precisariam de a enunciar. - Eu disse-lhe que, se não puder casar com o duque, pedirei permissão para entrar para um
convento.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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