— Quanto tempo você consegue ficar aqui fora?
Keller sorriu.
— Eu sou do Regimento, querido.
Gabriel deixou-o para trás e entrou na dacha. O restante da equipe
se espalhava pelos móveis rústicos da sala ampla. Mikhail ainda estava
vestido para um jantar no Café Pushkin. Ele tinha a mão direita enfiada
numa tigela de água gelada.
— O que aconteceu? — perguntou Gabriel.
— Eu bati a mão.
— No quê?
— Num rosto.
Gabriel pediu para ver a mão. Estava muito inchada, com os nós de
três dedos esfolados.
— Quantas vezes você bateu a mão?
— Uma ou duas. Ou talvez tenham sido onze ou doze.
— Como está o rosto?
— Veja você mesmo.
— Onde ele está?
Mikhail apontou para o chão.
Em meio aos muitos recursos de luxo da dacha, havia um abrigo
nuclear. O espaço já fora ocupado por um estoque de um ano de comida,
água e suprimentos. Agora continha dois homens. Ambos estavam cobertos
de fita adesiva: mãos, pés, joelhos, bocas e olhos. Ainda assim, dava para ver
que o rosto do mais velho sofrerá danos significativos, devido a repetidas
colisões contra a perigosa direita de Mikhail. Ele estava apoiado numa
parede, as pernas estendidas no chão. Ao escutar a porta sendo aberta, sua
cabeça começou a virar de um lado para o outro, como uma antena de radar
em busca de uma aeronave invasora. Gabriel se agachou na frente dele e
arrancou a fita adesiva dos seus olhos, levando junto parte de uma
sobrancelha; agora, o prisioneiro parecia estar com uma expressão de
surpresa permanente. Havia um corte profundo na bochecha e sangue
ressecado em volta do nariz entortado. Gabriel sorriu e tirou a fita adesiva
da boca.
— Olá, Pavel. Ou devo chamá-lo de Paul?
Zhirov ficou em silêncio. Gabriel avaliou o nariz quebrado.
— Isso deve doer. Mas esse tipo de coisa sempre acontece num lugar
como a Rússia.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1