A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

Apesar de ter sido um estudante indiferente e, com frequência,
inadequado, Zhirov foi aceito pelo prestigiado Instituto de Línguas
Estrangeiras de Moscou. Ao se graduar, todos imaginaram que ele fosse
trabalhar para o Ministério das Relações Exteriores. Em vez disso, um
recrutador do Comitê de Segurança do Estado, mais conhecido como KGB,
apareceu no apartamento de Zhirov em Moscou. O homem disse que o
serviço secreto estava de olho em Pavel desde a sua infância e acreditava
que ele reunia todos os atributos de um espião perfeito.
— Fiquei incrivelmente lisonjeado — admitiu Zhirov. — Era 1975.
Ford e Brejnev estavam se fazendo de amigos em Helsinque, mas, por trás
da fachada amena, a disputa entre o Leste e o Oeste, o capitalismo e o
socialismo, ainda grassava. E eu iria fazer parte dela.
Mas antes, acrescentou Zhirov, teria que frequentar outra
instituição: o Instituto do Estandarte Vermelho, o centro de treinamento da
KGB em Moscou. Lá, aprendeu os aspectos básicos do trabalho na KGB, em
especial sobre recrutamento de espiões, um processo dolorosamente lento e
controlado com firmeza, que chegava a durar um ano ou mais. Quando o
treinamento terminou, foi designado para o Quinto Departamento do
Primeiro Diretório Geral e transferido para Bruxelas. Em seguida, passou por
vários outros postos na Europa Ocidental, até que os seus superiores no
Centro Moscovita perceberam que tinha talento para o lado mais obscuro da
profissão. Zhirov foi realocado no Departamento S, a unidade que
supervisionava agentes soviéticos residindo “ilegalmente” no exterior.
Depois, trabalhou para o Departamento V, a divisão da KGB que lidava com
o mokroye delo.
— “Serviço úmido”... Assassinatos, certo?
Zhirov assentiu.
— Eu não era um assassino como você, Allon, mas um organizador,
estrategista.
— Você conduziu alguma operação de falsa bandeira enquanto
estava no De-partamento V?
— Nós as conduzíamos o tempo todo — admitiu Zhirov. — Na
verdade, falsas bandeiras eram o procedimento operacional de praxe. Quase
nunca agíamos contra um alvo a menos que pudéssemos criar uma história
plausível mostrando que outra pessoa estava por trás da ação.
— Quanto tempo você ficou no Departamento V?
— Até o fim.

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