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SÃO PETERSBURGO, RÚSSIA
Naquele mesmo instante, o homem responsável pela convocação do
coronel Milchenko ao Kremlin caminhava pela Admiralty Prospekt, em São
Petersburgo. Ele não sentia mais frio, apenas o ponto em seu braço onde a
mão dela havia pousado brevemente antes de eles se separarem. Seu
coração batia contra o peito. Sem dúvida ela estaria sendo observada. E
Gabriel estaria prestes a ser preso. Para apaziguar seus medos, mentiu para si
mesmo. Ele não estava na Rússia, pensou, mas em Veneza e Roma e Florença
e Paris, tudo ao mesmo tempo. Estava seguro. Ela também.
A Catedral de Santo Isaac, a colossal igreja de mármore que os
soviéticos transformaram num museu do ateísmo, surgiu à sua frente. Ele
entrou no prédio e subiu a escadaria estreita em caracol até a cúpula que
cercava o domo dourado. Como esperava, a plataforma estava vazia. A
cidade de conto de fadas fervilhava abaixo dos seus pés, o trânsito se
movendo lentamente pelas grandes prospekt.
Numa delas, uma mulher caminhava sozinha; um chapéu cobria-lhe
os cabelos claros, um lenço ocultava a parte inferior do rosto. Alguns
momentos depois, ele ouviu os passos na escada. E, então, ela estava parada
na sua frente. Não havia iluminação na cúpula. Mal dava para vê-la na
escuridão.
— Como você me encontrou?
O som da voz dela era quase irreal. Era o sotaque britânico. Gabriel se
deu conta de que era o único sotaque dela.
— Não importa como eu encontrei você.
— Como? — perguntou ela de novo, mas dessa vez Gabriel só ficou
em silêncio. Ele deu um passo na direção dela para enxergar seu rosto mais
claramente.
— Agora você se lembra de mim, Madeline? Fui eu que arrisquei
tudo para tentar salvar a sua vida. Nunca me ocorreu que você estivesse
envolvida desde o começo. Você me enganou, Madeline. Você enganou
todo mundo.
— Eu nunca estive envolvida, mas apenas obedecendo ordens.
— Eu sei — disse Gabriel depois de um instante. — Caso contrário,
não estaria aqui.
— Quem é você?