Na maior parte do dia, Jonathan Lancaster, o homem no centro dele,
permaneceu num silêncio inesperado. Enfim, às seis horas daquela tarde, a
porta preta do número 10 se abriu e ele saiu sozinho para encarar o país.
Com um tom de arrependimento, conseguiu manter os olhos secos e a voz
firme. Reconheceu que tinha mantido um relacionamento breve e insensato
com uma jovem da sede do Partido. Também admitiu que convocara os
serviços de um agente estrangeiro de inteligência para encontrar a moça
depois de seu desaparecimento; que, indevidamente, retivera informações
das autoridades britânicas; e que pagara 10 milhões de euros pelo resgate.
Em nenhum momento, insistiu, chegou a suspeitar que a garota fosse uma
espiã nascida na Rússia. Nem que o sequestro fizesse parte de uma
conspiração bem orquestrada por uma empresa petrolífera do Kremlin. Ele
tinha aprovado a licença para a Volgatek seguindo a sugestão de Jeremy
Fallon, seu assistente de longa data e chefe de gabinete. E aquele acordo,
ressaltou, agora estava desfeito.
Inteligente, Fallon emitiu sua própria declaração por escrito, pois,
mesmo em seus melhores dias, parecia um homem culpado de alguma coisa.
Ele reconheceu que havia ajudado o primeiro-ministro a lidar com as
consequências de sua “conduta pessoal imprudente”, mas negou
categoricamente que tivesse aceitado pagamentos em dinheiro de qualquer
pessoa ligada à Volgatek. Os comentaristas políticos não deixaram de notar a
agressividade da declaração. Para eles, Fallon acreditava que Lancaster
talvez não sobrevivesse e que poderia tomar seu cargo. Aquilo tudo estava
se transformando numa luta por sobrevivência. Talvez até mesmo uma luta
até a morte.
A declaração seguinte não veio de Londres, mas de Moscou. O
presidente russo disse que as alegações contra o Kremlin e sua empresa de
petróleo eram uma maliciosa mentira ocidental. Num sinal claro de que a
questão teria repercussões geopolíticas, acusou a inteligência britânica de ter
se envolvido no desaparecimento de Pavel Zhirov, o homem que era a base
daquelas alegações. Então, sem oferecer qualquer prova, insinuou que Viktor
Orlov tinha alguma relação com o caso. De sua sede em Mayfair, o ex-
oligarca emitiu uma declaração provocativa contradizendo o presidente e
afirmando que ele era um mentiroso congênito e cleptocrata que enfim
mostrara sua verdadeira face. Em seguida, entregou-se imediatamente a
uma equipe de segurança do MI5 e desapareceu de vista.
Mas quem era o misterioso agente de um serviço estrangeiro que
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1