olhou para a arma que Don Orsati tinha lhe dado. Uma Beretta 9 milímetros
carregada no banco do carona. Um tiro entre os chifres desgastados do bode
seria o bastante para terminar o impasse. Mas não era possível. O bode, assim
como as velhas oliveiras, pertencia a Don Casabianca. Se Gabriel tocasse
num pelo de sua maldita cabeça, haveria uma batalha e sangue derramado.
Gabriel deu duas buzinadas, mas o bode não cedeu. Com um suspiro
profundo, saiu do carro e tentou discutir com o bicho — primeiro em
francês, depois italiano e por fim, exasperado, em hebraico. O bode
respondeu baixando a cabeça e a mirando como um aríete na direção da
barriga de Gabriel. Mas Allon, que acreditava que a melhor defesa era um
bom ataque, avançou primeiro, balançando os braços e gritando como um
lunático. Surpreso, o bode recuou na mesma hora e sumiu por um vão na
macchia.
Gabriel voltou depressa até a porta aberta do carro, mas parou ao
ouvir um som ao longe, como o gorjeio de um tordo. Ele se virou e olhou
para cima, na direção da casa ocre ao lado da colina seguinte. Parado no
terraço estava um homem louro todo vestido de branco. E, embora Gabriel
não pudesse ter certeza, parecia que o homem estava rindo
descontroladamente.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1