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CÓRSEGA
O homem esperando por Gabriel na casa não era corso — ao menos
não tinha nascido ali. Seu nome real era Christopher Keller e ele fora criado
num sólido lar de classe média alta no elegante distrito londrino de
Kensington. Na Córsega, no entanto, apenas Don Orsati e um punhado de
seus subordinados sabiam de tudo isso. Para o resto da ilha, ele era
conhecido simplesmente como “o Inglês”.
A história da jornada de Keller de Kensington à Córsega fora uma
das mais intrigantes que Gabriel já escutara, o que em si já não era pouca
coisa. Filho único de dois médicos da Harley Street, logo cedo deixou claro
que não tinha a menor intenção de seguir os passos dos pais. Obcecado por
história, especialmente história militar, queria se tornar um soldado. Seus
pais o proibiram de se alistar no Exército e, por um tempo, ele se resignou.
Matriculou-se em Cambridge e começou a estudar história e idiomas
orientais. Era um aluno brilhante, mas no segundo ano de estudos perdeu a
paciência e uma noite sumiu sem deixar rastros. Alguns dias depois,
apareceu na casa do pai, em Kensington, de cabelo raspado, vestindo um
uniforme verde-oliva: tinha entrado para o Exército britânico.
Após completar o treinamento básico, Keller se juntou a uma
unidade de infantaria, mas seu intelecto, capacidade física e iniciativa logo
chamaram a atenção do Serviço Aéreo Especial, conhecido na Inglaterra
como SAS. Poucos dias depois de chegar à sede do regimento em Hereford,
ficou claro que Keller tinha encontrado sua vocação. Seus resultados no
“matadouro” — uma instalação abjeta onde recrutas praticavam combate e
resgate de reféns — foram os melhores já registrados e os instrutores do
curso de combate desarmado escreveram que nunca tinham visto alguém
com um talento tão instintivo para tirar a vida humana. Seu treinamento
culminou numa marcha de quase 65 quilômetros pelos pântanos ventosos
conhecidos como Brecon Beacons, um teste de resistência que já tinha
levado homens à morte. Com uma mochila de 25 quilos nas costas e um fuzil
de 4,5 quilos nas mãos, Keller quebrou o recorde do percurso por trinta
minutos, uma marca que nunca foi superada até os dias atuais.
Inicialmente, ele foi designado para um esquadrão Sabre
especializado em guerra no deserto, mas sua carreira logo deu uma guinada
quando um homem da inteligência militar foi procurá-lo. Ele estava atrás de