— Talvez você esteja certo — disse ele por fim. — Talvez um quarto
seja uma boa ideia.
— Não acho que seja necessário.
— Por que não?
Keller ligou os limpadores do para-brisa e apontou para além do
vidro.
— Porque Marcel Lacroix está vindo em nossa direção.
Ele estava usando um agasalho preto e tênis verde-néon, e
carregava no ombro uma mala esportiva Puma. Era óbvio que Lacroix havia
passado a maior parte da tarde na academia. Não que ele precisasse de
exercício: tinha pelo menos 1,90 metro e pesava mais de 90 quilos. Seus
cabelos escuros com gel estavam presos num rabo de cavalo curto. Havia
piercings nas duas orelhas e ideogramas chineses tatuados no lado do seu
grosso pescoço — evidência de que era um estudante das artes marciais
asiáticas. Seus olhos não paravam de se mexer, mas ele não chegou a
perceber os dois homens sentados no pequeno Renault com janelas
embaçadas. Enquanto o observava, Gabriel deu um suspiro profundo.
Lacroix certamente seria um oponente digno, em especial dentro do espaço
apertado do Moondance. Apesar do que dizem, tamanho é documento.
— Nenhuma piadinha? — perguntou Keller.
— Estou pensando em alguma.
— Por que você não me deixa cuidar disso?
— Por alguma razão, não acho que sei a uma boa ideia.
— Por que não?
— Porque ele sabe que você trabalha para Don Orsati. Se você
aparecer e começar a fazer perguntas sobre Madeline Hart, ele vai saber que
foi traído, e isso seria prejudicial aos interesses do don.
— Deixe que eu me preocupo com os interesses do don.
— É por isso que você está aqui, Keller?
— Eu estou aqui para garantir que você não acabe num caixão de
cimento no fundo do Mediterrâneo.
— Há lugares piores para ser enterrado.
— A lei judia não permite enterros no mar.
Keller ficou em silêncio quando Lacroix entrou na doca e começou a
seguir em direção ao Moondance. Gabriel focou na região lombar do francês,
prestando atenção em como pendia a roupa esportiva. Em seguida, olhou
para a forma como a bolsa estava pendurada.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1