via voltou a ter apenas duas faixas. Gabriel se manteve a uns 50 metros atrás
do Mercedes, tendo Keller logo atrás.
Àquela altura, o sol já tinha se posto e a noite outonal caía com a
rapidez de uma cortina descendo no palco. Os ciprestes que ladeavam a rua
foram do verde-escuro ao preto antes de serem consumidos pela escuridão.
Conforme a região foi envolvida pelas sombras, o mundo de Gabriel
diminuiu: faróis brancos, luzes de lanterna vermelhas, o rugido do motor da
scooter, o zumbido do Renault de Keller a alguns metros de distância. Seus
olhos estavam focados na traseira do Mercedes, mas em sua mente Gabriel
examinava um mapa da França. Naquela parte da província, havia vários
vilarejos e cidades, muito grudados uns nos outros, como pérolas num colar.
Mas, se continuassem seguindo naquela direção, entrariam em Vaucluse. Lá,
no Lubéron, os vilarejos ficariam mais esparsos e o terreno seria mais
acidentado — o tipo de lugar onde manteriam a garota. Algum lugar isolado,
algum lugar com uma única rua para entrar e para sair. Dessa forma,
saberiam se estavam sendo observados. Ou seguidos.
Eles passaram nos limites de uma cidade de pouca importância
chamada Lignane. Logo em seguida, o Mercedes entrou no estacionamento
deserto de uma loja que vendia objetos de cerâmica para jardim, e Gabriel e
Keller não tiveram escolha além de seguir adiante. Uns 200 metros adiante,
havia uma rotatória. Uma entrada dava em Saint-Cannat e a outra, que
passava por uma via menor, dava em Rognes. Gabriel gesticulou para que
Keller fosse na direção da primeira comuna. Depois de desligar o farol,
inclinou a scooter na direção da outra e rapidamente buscou abrigo à sombra
de uma parede de concreto. Após um instante, o Mercedes passou com o
motor ronronando, mas agora Brossard estava ao volante, e a mulher, que
Gabriel pôde ver claramente pela primeira vez, encarava o retrovisor com
atenção. Ele ligou para Keller e contou as notícias.
No caminho para Rognes, Gabriel pareceu voltar no tempo. Havia
menos pavimentação, a noite ficou mais escura e o ar esfriava à medida que
eles subiam em direção à base dos Alpes. Uma lua crescente aparecia e
desaparecia por trás das nuvens, ora iluminando, ora toldando a paisagem.
Dos dois lados da via, vinhedos acompanhavam as colinas como soldados
indo para a guerra, mas, fora isso, a terra parecia desprovida de habitação
humana. Mal havia iluminação elétrica e só se via o Mercedes na pista.
Gabriel estava a alguma distância do veículo e Keller seguia bem atrás para
não ser visto por Brossard. Sempre que possível, Allon dirigia sem o farol.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1