A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

─ Não sou eu. Por favor, não sei do que está falando.
Podia ouvir a própria voz a perder a convicção. Aparentemente, Stoltenberg
também, pois deu-lhe uma violenta bofetada na boca com as costas da mão. Os
olhos dela marejaram-se e sentiu nos lábios o gosto a sangue. Olhou para a
fotografia, uma antiga foto de identificação da Alemanha
Ocidental. Era uma magrizela revolucionária, uma expressão no rosto que
dizia como se atreveram a tirar-me esta porra desta fotografia. O corte de cabelo
espetado de Kurt Vogel, os óculos com lentes de cristal de rocha de Kurt Vogel.
Sempre achara que era uma fotografia bastante horrorosa, mas quando a policial a
colocou num cartaz a dizer "procura-se", tornou-se o símbolo sexual da Esquerda
radical.
As pirâmides estavam à sua frente, recortadas de encontro ao azul
profundo da noite do deserto. Uma Lua muito branca a três quartos pairava baixa
no céu, brilhante como um archote. Onde diabo estás tu, Jean-Paul? pensou ela.
Resistiu ao impulso de se virar para trás e procurá-lo. O que tinha ele dito? Não
vou deixar que ninguém te faça mal É bom que faças alguma coisa depressa,
querido, pensou, ou este homem vai fazer de ti um mentiroso. Por qualquer razão,
ele não lhe revistara o corpo, nem a mala. A arma ainda lá estava, uma pequena
Browning automática, mas sabia que jamais conseguiria tirá-la a tempo, no espaço
limitado do banco traseiro. Não teve outro remédio a não ser esperar, ganhar
tempo e pedir a Deus que Jean-Paul estivesse algures na escuridão. As pirâmides
desapareceram. Viraram para um trilho estreito e sem pavimento, que se estendia
até o deserto.
─ Para onde me estás a levar? ─ perguntou Astrid. ─ Se queres dar uma
queca, podemos dá-la aqui mesmo. Não tens de me levar para o deserto e pores-te
com estes jogos estúpidos. Voltou a esbofeteá-la. ─ Cala-te ─ ordenou.
O Mercedes dava solavancos e baloiçava desenfreadamente.
─ Quem te contratou?
─ Ninguém me contratou. Não sou quem tu dizes. Quero voltar para o meu
hotel.
Por favor, não faças isto.
Deu-lhe outra bofetada, desta vez com mais força.
─ Responde-me! Quem te contratou?
─ Ninguém, por favor.
─ Quem é o homem? O teu parceiro, o francês?
─ Ele não passa de um idiota do meu grupo de viagem. Não é ninguém.
─ Mataste o Colin Yardley em Londres?
─ Eu não matei ninguém.

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