A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

─ Mataste o Colin Yardley em Londres? Foi o francês?
Eu não mato pessoas. Trabalho para uma revista em Berlim. Sou designer
gráfica. Não me chamo Astrid Vogel. O meu nome é Eva Tebbe. Por favor, isto é
coisa de loucos. Para onde me leva?
─ Para um lugar onde ninguém vai te ouvir gritar e onde ninguém vai te
encontrar depois que eu te matar. ─ Levou novamente a mão ao blusão e desta vez
retirou uma arma. Encostou o cano no pescoço dela e puxou seu cabelo. ─ Mais
uma vez ─ disse. ─ Quem é o francês? Quem te contratou?
─ Meu nome é Eva Tebbe. Sou designer gráfica em Berlim.
Pensou nas velhas palestras sobre doutrinação na Red Army Faction. Se
forem presos, não lhes deem nada. Desafiem, censurem, mas não lhes deem nada.
Eles vão provocar, mexer com sua cabeça. É isso que os policiais fazem. Não lhes
deem nada. Naquele caso, o conselho tinha uma aplicação muito prática, pois no
momento em que dissesse a verdade a Stoltenberg, com certeza ele a mataria.
Puxou-lhe o cabelo com violência e depois soltou-a. A mala dela estava
sobre o banco, entre os dois. Abriu-a e revirou o conteúdo até encontrar a
Browning. Mostrou-a, como prova da traição, e colocou-a dentro do blusão. ─ É
muito desleixado, esse teu francês, Astrid. Enviou-te para uma situação muito
perigosa. Ele sabia que trabalhei para a Stasi. Devia ter percebido que podia
reconhecer uma antiga assassina da Fação do Exército Vermelho. E preciso ser-se
um sacana muito frio para enviar uma mulher para uma situação destas. O carro
parou numa escarpa do deserto com vista para a cidade. Abaixo deles, o Cairo
estendia-se como um leque gigante, estreito a sul, amplo a norte, na base do delta
do Nilo. Milhares de minaretes erguiam-se em direção ao céu. Interrogou-se qual
seria o dela. Queria estar de volta àquele quarto de hotel horroroso, com a sanita
que não funcionava, junto ao edifício prestes a ruir. ─ É evidente que amas esse
homem. É por isso que estás disposta a suportar a dor física por ele. Ele não sente o
mesmo por ti, garanto-te. Caso contrário, nunca teria permitido que te
aproximasses de mim. Está te usando, como aqueles sacanas na Red Army Faction
te usaram.
Stoltenberg disse algo ao motorista num árabe rápido que Astrid não
compreendeu. O motorista abriu a porta e saiu. Stoltenberg encostou-lhe
novamente a arma ao pescoço.
─ Muito bem ─ disse. ─ Vamos tentar só mais uma vez.
Delaroche desligou o motor da mota quando viu as luzes de travão do
Mercedes a acender. Parou em silêncio, retirou a mota do trilho e aproximou-se do
carro a pé. A Lua projetava sombras. O Cairo murmurava à distância. Imobilizou-se
quando ouviu uma porta do carro abrir e fechar. O veículo permaneceu às escuras;

Free download pdf