A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

AMSTERDAM


Estava uma madrugada muito fria quando Delaroche e Astrid regressaram
à casa flutuante no Prisengracht. Delaroche inspecionou o barco cuidadosamente
durante vinte minutos, para se certificar de que ninguém estivera a bordo.
Verificou os detetores, revistou os armários na cozinha e as gavetas no quarto de
Astrid, percorreu o convés gelado. Astrid não lhe foi de grande ajuda. Contente
por finalmente estar a bordo do seu adorado Krista, deixou-se cair em cima da
cama vestida como estava e observava-o só com um olho, como se estivesse louco.
Delaroche sentia-se alerta e revigorado, apesar da longa viagem. Na manhã
anterior tinham apanhado um avião do Cairo para Madrid, tendo primeiro
explicado ao senhor Fahmy que iam abreviar a estadia no Hotel Imperial porque a
Sra. estava muito doente. Fahmy receava que fosse a sanita que os tivesse
afugentado (ofereceu-lhes a melhor suíte do hotel para persuadi-los a ficar), mas
Delaroche garantiu-lhe que fora a água, e não a sanita, que os obrigara a partir. Em
Madrid, tinham apanhado o comboio para Amsterdam. Delaroche passou a viagem
debruçado sobre o computador portátil como um homem de negócios, planeando o
assassinato seguinte. Astrid dormia um sono sobressaltado ao lado dele, revivendo
os últimos acontecimentos.
O canal congelara novamente e, mais uma vez, o Krista estava repleto dos
gritos alegres dos patinadores. Astrid tomou comprimidos para dormir e tapou a
cabeça com uma almofada. Delaroche sentia-se demasiado agitado para dormir,
por isso, a meio da manhã, quando o sol consumiu as nuvens, foi para a coberta de
proa e pintou, agasalhado com uma blusa grossa e luvas sem dedos. A luz era boa,
bem como o assunto (patinadores no canal, casas com empenas em pano de fundo)
e, quando terminou, pensou que era o melhor trabalho que produzira em
Amsterdam.
Tinha um curioso desejo pela aprovação de Astrid mas, quando desceu para
tentar acordá-la, ela limitou-se a resmungar que o seu nome era Eva Tebbe, uma
designer gráfica de Berlim e para que, por favor, parasse de esbofeteá-la. Deixou-a
ao início da tarde, pedalando por Amsterdam, com o computador portátil a
tiracolo. Prendeu a bicicleta junto a um centro telefônico perto do Rijksmuseum e
entrou. Dirigiu-se a uma cabine, ligou o computador e teclou durante alguns
instantes. Tinha uma mensagem de correio eletrônico. Abriu-a e na tela surgiu
uma série ininteligível de símbolos. Inseriu o nome de código e a mensagem
apareceu num texto claro.

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