A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Comeram como amantes extenuados no restaurante no Herengracht onde
Delaroche a levara na primeira noite. Ela não tinha comido nada no Cairo, por isso
devorou o seu prato, bem como grande parte do de Delaroche. A sua pele, branca
como a cal devido ao cansaço e ao nervosismo, foi ganhando cor com a comida, o
vinho e o ar da noite. Contou-lhe enquanto comiam a sobremesa. O rosto dela não
deixou transparecer mais do que uma ligeira irritação, como se Delaroche a tivesse
informado de que, naquela noite, ia ficar a trabalhar até mais tarde no escritório.
─ Não tem que fazer ─ disse-lhe. ─ Não quero ficar sem você.
Fizeram amor sob a claraboia do Krista, ao som dos gritos dos patinadores
no Prinsengracht. Em seguida, Delaroche confessou ter abatido o avião em Nova
York, bem como o rapaz palestino. Disse-lhe que acreditava que os homens que
tinham matado também estavam envolvidos no ataque ou que, de alguma forma,
sabiam a verdade.
─ Quem são os homens que te contrataram? ─ perguntou ela, tocando-o
nos lábios.
─ Sinceramente não sei.
─ Tem que saber que eles vão te matar, Jean-Paul. Quando terminar o
contrato, eles virão atrás de você. E de mim também.
─ Eu sei.
─ Para onde iremos?
─ Para a nossa casa na praia.
─ Estaremos seguros lá?
─ Estaremos tão seguros como em outro lugar qualquer.
Astrid acendeu um cigarro e exalou um esguio fio de fumo em direção à
claraboia. Delaroche pegou no portátil, ligou-o e carregou em algumas teclas. O
disco rígido zumbiu e depois a imagem de um homem de cabelo escuro apareceu
no ecrã.
─ Por que esse homem tem que morrer?
─ Desconfio que sabe demais.
Surgiu outra imagem, a de Elizabeth Osbourne.
─ A mulher dele é linda.
─ Sim.
─ É uma pena.
─ Sim ─ concordou Delaroche, e fechou o notebook.

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