A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Michael sempre pensou que os ambientalistas teriam um dia em cheio no
gabinete de Monica Tyler. Situado no sétimo andar era amplo e arejado, com vista
para as árvores ao longo do rio. Monica escarnecera da ideia de decorar o seu covil
com mobiliário do governo e trouxera o seu do escritório de Nova York: uma
grande secretária de mogno, arquivos de mogno, estantes de mogno, e uma mesa
de reuniões de mogno, rodeada por confortáveis cadeiras de pele. Viam-se adornos
de marfim e de prata por aqui e por ali, e belos tapetes persas cobriam a quase
totalidade da feia alcatifa azul-acinzentada do governo. Uma parede era
exclusivamente dedicada às fotografias de Monica com pessoas famosas: Monica
com James Beckwith, Monica com o Diretor Ronald Clark, Monica com um ator
famoso, Monica com a princesa Diana. No mundo da espionagem notoriamente
avesso às câmaras, Monica era uma autêntica miúda de capa de revistas. Ao entrar
na sala, Michael sentiu o aroma do café acabado de fazer (um requintado love
italiano ou francês) e, vinda de algures, ouviu uma calma música sinfônica. Adrian
Carter chegou a seguir, parecendo muito ressacado. Farejou o ar, sentiu o odor do
café e franziu o cenho. Monica foi a última a chegar, com cinco minutos de atraso,
como era seu hábito, seguida por Tweedledee e por Tweedledum, cada um
segurando na mão uma pasta de pele.
Sentaram-se à mesa de reuniões, Monica no topo, com os factótuns à sua
direita e Michael e Carter à esquerda. Uma secretária trouxe um tabuleiro com café
e natas e um prato de bolinhos delicados.
Monica assinalou o início da ordem de trabalhos, batendo com a ponta da
caneta de ouro sobre o tampo polido da mesa.
─ Onde está o McManus? ─ perguntou Carter.
─ Teve de ir à baixa, ao Edifício Hoover, devido a um assunto urgente ─
respondeu Monica, com um tom de voz inexpressivo.
─ Não lhe parece que o representante do FBI do Centro de
Contraterrorismo deveria estar presente nesta reunião?
─ Tudo o que o FBI precisar saber será transmitido na altura devida ─
respondeu. ─ Este é um assunto da Agência e será tratado como tal. Carter, incapaz
de esconder a fúria, roeu a unha do indicador. Monica olhou para Michael.
─ Após o incidente no ferry, foram-lhe dadas ordens para que regressasse a
Londres de imediato e se apresentasse na sede. O senhor desobedeceu a essa
ordem e foi para o Cairo. Por quê?
─ Julguei que podia descobrir informações valiosas a respeito de uma
investigação em curso ─ respondeu Michael. ─ Não fui por ter vontade de ver as
pirâmides.

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