A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Michael deu meia volta, correu alguns metros ao longo da ponte e depois
saltou para o lado, para dentro da lama e dos juncos na margem do rio. Trepou
uma ladeira escorregadia devido às folhas de Outono molhadas e desapareceu num
aglomerado de árvores.
Delaroche sentou-se e recuperou. O golpe deixara-o sem fôlego, mas não
sofrera ferimentos de maior. Enfiou a Beretta na cintura dos calções e puxou a
blusa sobre a coronha. Dois homens de moletom camuflados contornaram a
esquina no momento em que Delaroche se baixava para apanhar a bicicleta. Por um
instante, pensou em matá-los a ambos. Depois lembrou-se que o pentágono ficava
ali perto e que os soldados tinham simplesmente saído para uma corrida inofensiva
ao meio-dia. ─ Está bem? ─ perguntou um deles.
Foi só um rufião que tentou roubar-me ─ respondeu Delaroche, deixando
vir ao de cima o seu sotaque francês. ─ Quando expliquei ao homem que não tinha
nada de valor, ele empurrou-me da bicicleta.
─ Se calhar era melhor ir ao médico ─ sugeriu o outro.
─ Não, uma nódoa negra, talvez, mas nada de grave. Quando encontrar um
policial, apresento queixa.
─ Está bem, tenha cuidado.
─ Obrigado por pararem, cavalheiros.
Delaroche esperou que os soldados desaparecessem de vista. Pegou na
bicicleta pelo guiador e endireitou-a. Estava zangado e excitado. Nunca falhara um
assassinato e estava zangado consigo próprio por não ter reagido melhor.
Osbourne provara ser um adversário de maior respeito do que Delaroche esperara.
A sua corrida em direção a Delaroche demonstrava, ao mesmo tempo, coragem e
astúcia. A segunda decisão, de fugir em vez de lutar, também demonstrava
inteligência, pois Delaroche certamente que o teria matado.
Era por isso que Delaroche se sentia excitado. A maior parte das vítimas
nem dava pelo que lhes acontecia. Ele surgia de forma inesperada e matava sem
avisar. A maior parte das vezes o seu trabalho nada tinha de estimulante. Era
evidente que esse não seria o caso com Osbourne. Delaroche perdera o elemento
surpresa. Osbourne sabia da sua presença e nunca mais voltaria a permitir que
Delaroche se aproximasse dele. Teria de trazer Osbourne até si.
Delaroche recordou-se da noite na Represa de Chelsea. Recordou ter
alvejado três vezes o rosto da mulher chamada Sarah Randolph e de ouvir os gritos
angustiados de Michael Osbourne enquanto fugia. Um homem que perdera uma
mulher daquela forma faria quase tudo para evitar que tal voltasse a acontecer.
Montou-se na bicicleta e pedalou para norte, em direção a Key Bridge. Marcou o
número de Astrid, que atendeu ao primeiro toque. Enquanto atravessava a ponte

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