A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

e uma nécessaire pequena, incluindo as pílulas anticoncepcionais e o analgésico controlado
para as dores de cabeça que às vezes a tomavam de supetão. Então, voltou à cozinha.
— Onde estão minhas cartas?
— Que cartas?
— As cartas que você pegou do meu quarto.
— Não peguei nada seu.
— E quem foi?
— Vamos embora — foi tudo o que a mulher disse.
Descendo as escadas, mala em uma mão, bolsa em outra, Natalie notou que a mulher
mancava levemente. O carro dela estava estacionado na rua Ibn Ezra, diretamente em
frente ao de Natalie. Ela dirigiu calmamente, mas muito rápido, pelos morros da Judeia
em direção a Tel Aviv, depois para o norte pela planície costeira da Highway 6. Por um
tempo, ouviram as notícias no rádio, mas todas eram sobre esfaqueamentos e mortes e
previsões de uma guerra apocalíptica iminente entre judeus e muçulmanos no Monte do
Templo. A mulher ignorou todas as perguntas e tentativas de conversa, restando a
Natalie olhar pela janela os minaretes que se erguiam sobre as cidades da Cisjordânia
logo depois da barreira de separação. Estavam tão perto que imaginou poder tocá-los. A
proximidade das vilas com uma estrada tão vital a fazia duvidar da possibilidade de uma
solução entre os dois Estados. Vilas francesas e suíças existiam lado a lado em uma
barreira praticamente invisível, mas a Suíça não queria eliminar a França do mapa. E os
suíços não rogavam que seus filhos derramassem o sangue dos infiéis franceses.
Gradualmente, a planície costeira ficou para trás e a estrada se dobrou em direção às
escarpas do monte Carmel e à colcha de retalhos verde e marrom que era a Galileia. Elas
iam vagamente na direção de Nazaré, mas, alguns quilômetros antes de chegarem à
cidade, a mulher virou em uma estrada menor e a seguiu, passando pelas quadras de
esporte de uma escola até que uma barreira de segurança, de metal e arame farpado,
bloqueou o caminho. Automaticamente, o portão se abriu e elas prosseguiram em uma
rua levemente curvada, ladeada por árvores. Natalie estava esperando algum tipo de
instalação secreta, mas, em vez disso, se viu em uma cidadezinha tranquila. O layout era
circular. Bangalôs faziam frente para a estrada e, atrás dos bangalôs, como lâminas de um
leque, abriam-se pastos e terras férteis.
— Onde estamos?
— Nahalal — respondeu a mulher. — É um moshav. Você conhece esse termo?
Moshav?
— Eu sou imigrante — disse Natalie friamente —, não idiota. Um moshav é uma
comunidade cooperativa de fazendas individuais, o que é diferente de um kibutz.
— Muito bem.
— É verdade, né?
— O quê?
— Vocês realmente acham que somos idiotas. Pedem para a gente fazer aliyah[*] e aí
nos tratam como se não fôssemos realmente membros do clube. Por quê?

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