Uma fila de várias dezenas de pessoas saía da porta, onde dois seguranças de ternos
escuros, jovens de 20 e poucos anos, estavam revistando minuciosamente quem desejava
entrar. Hannah passou por eles e se dirigiu ao andar de cima para a recepção VIP.
Arthur Goldman e Max Strauss estavam se olhando com desconfiança em lados opostos
da sala, tomando xícaras de café américain fraco. A romancista famosa estava conversando
seriamente com um dos memorialistas; o chefe do Museu do Holocausto trocava ideias
com o especialista do Yad Vashem, seu amigo de longa data. Só o comentador americano
enfadonho parecia não ter com quem conversar. Ele estava empilhando croissants e
brioches em seu prato como se não visse comida há dias.
— Não se preocupe — disse Hannah, sorrindo. — Estamos planejando um
intervalo para o almoço.
Ela passou uns minutos ou mais com cada um dos debatedores antes de se
encaminhar para seu escritório no fim do corredor. Sozinha, releu seu discurso de
abertura até que Rachel Lévy colocou a cabeça pela porta e apontou para seu relógio de
pulso.
— Como está a plateia? — perguntou Hannah.
— Mais gente do que conseguimos dar conta.
— E a mídia?
— Veio todo mundo, inclusive o The New York Times e a BBC.
Nesse momento, o celular de Hannah apitou. Era uma mensagem de Alain Lambert,
do Ministério do Interior. Ao ler, franziu as sobrancelhas.
— O que é? — perguntou Rachel.
— É só Alain sendo o Alain.
Hannah colocou o celular na mesa, juntou seus papéis e saiu. Rachel Lévy esperou
até que ela saísse antes de pegar o celular e digitar o código não tão secreto de Hannah. A
mensagem de Alain Lambert apareceu, com três palavras.
CUIDADO, MINHA QUERIDA...
O Centro Weinberg não tinha espaço suficiente para um auditório formal, mas a sala em
seu último andar era uma das melhores do Marais. Uma fileira de janelas do chão ao teto
dava uma vista maravilhosa dos telhados até o Sena, e nas paredes estavam penduradas
várias fotografias em preto e branco grandes mostrando a vida no bairro antes da manhã
do Jeudi Noir. Todos que apareciam nelas haviam morrido no Holocausto, incluindo
Isaac Weinberg, fotografado em sua biblioteca três meses antes da tragédia. Passando
pela foto, Hannah acariciou sua superfície com um dedo, da mesma forma como tocara
as pinceladas do Van Gogh. Só ela sabia da ligação secreta entre a pintura, seu avô e o