arregalados vindos do Cáucaso, satisfeitos por lutarem contra os russos novamente.
Havia muitos europeus, inclusive três franceses. Eles estavam cientes da presença de
Natalie, mas não tentavam se comunicar com ela. Ela estava inacessível. Era a garota de
Saladin.
Os sírios e os russos não hesitavam em bombardear alvos civis, mas os americanos
eram mais cuidadosos. Todos concordavam que estavam bombardeando menos nos
últimos dias. Ninguém sabia o porquê, mas todos tinham uma opinião, especialmente os
soldados estrangeiros, que alardeavam que os Estados Unidos, decadentes e infiéis,
estavam perdendo a coragem de lutar. Ninguém suspeitava que a verdadeira razão para a
trégua na atividade aérea americana estivesse vivendo entre eles, em um cômodo com
uma única janela com vista para o Parque al-Rasheed e cobertores que cheiravam a
camelo e bode.
A saúde na Síria era deplorável mesmo antes da revolta; e agora, no caos da guerra
civil, era quase inexistente. O Hospital Nacional de Raqqa era uma ruína, sem remédios
nem materiais, lotado de soldados do ISIS feridos. O resto dos infelizes moradores da
cidade recebiam cuidados, se é que se podia chamar assim, de pequenas clínicas
espalhadas pelos bairros. Natalie topou com uma delas enquanto procurava pão em seu
segundo dia em Raqqa, e viu que estava cheia de vítimas civis de um ataque aéreo russo,
muitos mortos, vários outros que morreriam em breve. Não havia médicos presentes,
apenas motoristas de ambulância e “enfermeiras” do ISIS que só tinham recebido um
treinamento rudimentar. Natalie anunciou que era médica e imediatamente começou a
tratar os feridos com os materiais que conseguiu encontrar. Fez isso ainda vestida com
seu abaya desajeitado e não esterilizado porque um husbah raivoso ameaçou bater nela se
ela o tirasse. Naquela noite, quando finalmente voltou ao apartamento, lavou o sangue
do abaya na água do Eufrates. Em Raqqa, o tempo tinha voltado atrás.
Elas não vestiam seus abayas no apartamento, só os hijabs. Miranda ficava muito bem
no dela, que emoldurava seus delicados traços celtas, destacando seus olhos verde-mar.
Enquanto preparava o jantar naquela noite, ela contou a Natalie sobre sua conversão ao
islã. Sua casa, durante a infância, fora um lugar particularmente infeliz — mãe alcoólatra,
pai tosco, desempregado e que abusava sexualmente dela. Com 13 anos, começou a beber
muito e a usar drogas. Engravidou duas vezes e abortou nas duas.
— Eu estava acabada — disse. — Chegando no fundo do poço.
Então, um dia, drogada, bêbada, ela se viu em frente a uma livraria islâmica no
centro de Bristol. Um muçulmano a viu olhando pela vitrine e a convidou a entrar. Ela
se recusou, mas aceitou a oferta de um livro grátis.
— Fiquei tentada a jogar na lata de lixo mais próxima. Ainda bem que não joguei.
Mudou minha vida.
Ela parou de beber, de se drogar e de transar com caras que mal conhecia.
Converteu-se ao islã, adotou o véu e começou a orar cinco vezes ao dia. Seus pais eram
não praticantes da Igreja da Inglaterra, infiéis, mas não queriam uma filha muçulmana.
Expulsa de casa só com uma mala e cem libras em dinheiro, chegou ao leste de Londres,
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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