A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

A


WASHINGTON–JERUSALÉM

s recriminações começaram antes mesmo de o sol nascer. Um partido culpava o
presidente pela calamidade que caíra sobre os Estados Unidos; o outro culpava seu
antecessor. Era a única coisa que Washington fazia bem ultimamente — recriminar e
distribuir culpa. Tempos atrás, durante os sombrios dias da Guerra Fria, a política
externa americana era caracterizada pelo consenso e pela estabilidade. Agora, os dois
partidos principais não conseguiam concordar nem sobre como se referir ao inimigo,
quanto mais em como combatê-lo. Não era surpreendente, portanto, que um ataque à
capital da nação fosse mais uma ocasião para bate-bocas partidários.
Enquanto isso — no Centro Nacional de Contraterrorismo, no Lincoln Memorial,
no Kennedy Center, em Harbor Place, em uma série de restaurantes na M Street e no
Café Milano —, estavam contando os mortos: 116 no CNC e no Escritório do Diretor de
Inteligência Nacional, 28 no Lincoln Memorial, 312 no Kennedy Center, 147 em Harbor
Place, 62 ao longo da M Street e 49 no Café Milano. Entre os mortos no renomado
restaurante de Georgetown, estavam os quatro atiradores do ISIS. Todos tinham sido
assassinados. Mas, imediatamente depois dos atentados, houve confusão sobre quem
precisamente tinha atirado. A Polícia Metropolitana disse que foi o FBI. O FBI disse que
foi a Polícia Metropolitana.
A terrorista suicida foi identificada como uma mulher de quase 30 anos, loira. Em
pouco tempo, foi concluído que ela tinha voado de Paris a Nova York com um
passaporte francês e passado uma única noite no Key Bridge Marriott, em Arlington, em
um quarto registrado para certa dra. Leila Hadawi, também cidadã francesa. O governo
francês, então, foi obrigado a reconhecer que a mulher-bomba, identificada pelo
passaporte como Asma Doumaz, era na verdade Safia Bourihane, a mulher que atacara o
Centro Weinberg, em Paris. Mas como a mulher mais procurada do mundo, um ícone
jihadista, tinha conseguido entrar de volta na França, embarcar em um voo internacional
e entrar nos Estados Unidos? No Capitólio, membros de ambos os partidos políticos
pediram a renúncia do secretário de Segurança Nacional e do diretor de Alfândega e
Proteção da Fronteira. Recriminações e distribuição de culpa: o passatempo favorito de
Washington.
Mas quem era a dra. Leila Hadawi? O governo francês alegava que ela tinha nascido
na França de pais palestinos e era funcionária do sistema de saúde estatal. Segundo
registros de passaporte, tinha passado o mês de agosto na Grécia, mas oficiais do serviço
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