A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

B


AMÃ, JORDÂNIA

em cedo na manhã seguinte, Gabriel saiu silenciosamente do apartamento enquanto
Chiara e os bebês ainda estavam dormindo, e entrou no banco detrás de sua SUV
blindada. O comboio dela era composto de dois veículos adicionais cheios de agentes de
segurança do Escritório muito armados. E, em vez de irem para o oeste, em direção a
Tel Aviv e ao boulevard Rei Saul, contornaram as muralhas otomanas da Cidade Antiga
e desceram os morros da Judeia até as planícies implacáveis da Cisjordânia. As estrelas
estavam pregadas no céu sem nuvens acima de Jerusalém, indiferentes ao sol que subia
baixo e ardente atrás das fendas do vale do Jordão. Alguns quilômetros antes de Jericó
ficava a saída para a ponte Allenby, passagem histórica entre a Cisjordânia e o Reino
Hachemita da Jordânia, criado pelos ingleses. O trânsito na metade israelense tinha sido
segurado para a chegada de Gabriel; do outro lado, esperava um comboio
impressionante de veículos Chevrolet Suburban cheios de soldados beduínos
bigodudos. O chefe de segurança de Gabriel trocou algumas palavras com seu colega
jordaniano. Então, os dois comboios se mesclaram e atravessaram o deserto em direção
a Amã.
O destino era a sede do Departamento Geral de Inteligência da Jordânia, também
conhecido como Mukhabarat, palavra árabe usada para descrever o serviço secreto
onipresente que guardava os frágeis reinos, emirados e repúblicas do Oriente Médio.
Gabriel, cercado por anéis concêntricos de homens de segurança, com uma maleta de aço
inoxidável em uma mão, passou rapidamente pelo lobby de mármore e subiu um andar de
escadas curvas até o escritório de Fareed Barakat, chefe do DGI. Era um cômodo vasto,
quatro ou cinco vezes maior que a suíte do diretor no boulevard Rei Saul, e decorado
com cortinas sóbrias, lotado de cadeiras e sofás, tapetes persas luxuosos e bibelôs caros,
todos presenteados a Fareed por espiões e políticos admiradores do mundo todo. Era o
tipo de lugar, pensou Gabriel, onde favores eram trocados; julgamentos, emitidos; e
vidas, destruídas. Para a ocasião, ele caprichara em relação a seu traje de sempre,
trocando os jeans e o couro por um terno cinza elegante e uma camisa branca. Mesmo
assim, a roupa parecia trivial perto das esplendorosas vestimentas de fio de lã que
adornavam o corpo esguio de Fareed Barakat. Os ternos de Fareed eram feitos a mão
para ele por Anthony Sinclair, em Londres. Como o atual rei da Jordânia, homem que
jurara proteger, ele tivera uma educação cara na Grã-Bretanha. Falava inglês como um
apresentador de televisão da BBC.
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