ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

sua privacidade.
A mulher pareceu aceitar a explicação. Gabriel sentiu uma pontada incomum de culpa.
Embora ele fosse bem treinado na fina arte da mentira, havia uma apreensão compreensível no
ato de enganar o espectro de uma mulher morta. Ela se ergueu da cadeira e caminhou
lentamente em sua direção, na meia-luz.
— Onde você conseguiu isso? — indagou ela, indicando as chaves na mão de Gabriel.
— Foram encontradas na mesa de Claudia — disse ele, a culpa espetando-o por
dentro.
— Encontraram algo mais?
— Como, por exemplo...?
— Um bilhete de suicídio?
Gabriel mal pôde acreditar que ela não tivesse dito "meu bilhete de suicídio".
— Receio que você precise questionar a polícia do Vaticano sobre isso.
— Pretendo fazê-lo. — Ela deu mais um passo em sua direção. — Sou Paola Andreatti
— apresentou-se, estendendo a mão. Gabriel hesitou em apertá-la e ela estreitou os olhos,
pensativa. — Então é verdade.
— O quê?
— Minha irmã me disse que você iria restaurar o Caravaggio. Devo admitir que estou
surpresa de encontrá-lo aqui, Sr. Allon.
Gabriel apertou a mão quente e úmida de Paola.
— Perdoe-me — desculpou-se ela —, mas eu estava lavando a louça antes de vocês
chegarem. Minha irmã deixou uma bela bagunça.
— Como assim?
— Tudo no apartamento estava um pouco fora do lugar — explicou, olhando em volta.
— Eu tentei arrumar de alguma forma.
— Quando foi a última vez que você falou com ela?
— Na quarta-feira da semana passada. — A resposta veio sem hesitação. — Ela
parecia ocupada, mas completamente normal, e não alguém prestes a...
Ela se interrompeu e encarou Chiara.
— Sua assistente? — perguntou.
— Ela tem a grande infelicidade de ser casada comigo.
Paola deu um sorriso triste.
— Estou tentada a dizer que você é um homem de sorte, Sr. Allon, mas já li o suficiente
sobre seu passado para saber que isso não é exatamente verdade.
— Você não deveria acreditar em tudo que lê nos jornais.
— Não acredito.
Ela examinou Gabriel com cuidado por um instante. Seus olhos eram idênticos aos que
ele tinha visto mais cedo, olhando sem vida para o domo da basílica. Era como ser
perscrutado por um fantasma.
— É melhor começarmos esta conversa de novo — disse ela, por fim. — Mas desta
vez não minta para mim, Sr. Allon. Eu acabei de perder minha irmã e melhor amiga. E de

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