inspecionar uma ravina que se transformou num problema de segurança,
um lugar que os ucranianos chamam Babi Yar. Quando chegam, o Sol já está
a desaparecer no horizonte e está quase a anoitecer. Mesmo assim, há luz
suficiente para observar o estranho fenômeno que acontece no fundo da
ravina. A terra parece estar a debater-se com um ataque epiléptico. O solo
tem convulsões, gás é disparado para o ar, juntamente com gêiseres de
líquido pútrido. O fedor! Meu Deus, o fedor. Ele consegue cheirá-lo agora.
— Quando começou?
— Pouco depois do final do Inverno. O chão aqueceu, então os
corpos aqueceram. Eles decompõem-se muito rapidamente.
— Quantos estão ali embaixo?
— Trinta e três mil judeus, alguns ciganos e prisioneiros soviéticos,
assim por alto.
— Cerque a ravina inteira.
— No momento outros locais têm prioridade. Trataremos deste
assim que possível.
— Que outros locais?
— Locais de que nunca ouviu falar: Birkenau, Belzec, Sobibor,
Treblinka. Nosso trabalho aqui está feito. Esperam novas chegadas a
qualquer momento, nos outros.
— O que vai fazer com este local?
— Abrimos as valas e queimamos os corpos, em seguida
esmagamos os ossos e espalhamos os fragmentos nas florestas e nos rios.
— Queimar trinta mil cadáveres? Tentamos isso nas operações de
massacre. Usamos lança-chamas, pelo amor de Deus. Cremações maciças a
céu aberto não funcionam.
— Isso é porque nunca construíram uma pira em condições. Em
Chelmno, eu provei que pode ser feito. Confie em mim, Kurt, um dia este
local chamado Babi Yar será apenas um rumor, como os judeus que viviam
aqui.
Ele torceu os pulsos. Desta vez a dor não foi suficiente para acordar.
A cortina recusou-se a abrir. Permaneceu trancado numa prisão de
memórias, vagueando por um rio de cinzas.
MERGULHARAM PELA noite adentro. O tempo era uma memória. A
fita adesiva tinha-lhe cortado a circulação. Já não conseguia sentir as mãos
e os pés. Sentia-se febrilmente quente num minuto e arrepiantemente frio
no outro. Tinha a impressão de terem parado uma vez. Tinha cheirado
gasolina. Estariam eles a encher o depósito? Ou seria apenas a memória de