CINCO
— Se descobrisses que o teu marido te andava a enganar, o que é que fazias? — perguntou
Isabel.
Graça olhou para ela, séria.
— Estás a assustar-me — disse.
Estavam sentadas num pequeno restaurante de bairro, um restaurante de tias com uns pratos a
puxar para o chique mas de preços acessíveis. O espaço era todo revestido de madeira ripada e
a cor predominante era um branco-sujo que o tornava bastante alegre e agradável. Tinha uma
decoração muito gira e duas quarentonas, um pouco pesadas, exibindo as palavras «Coma com a
gente» bordadas nos seus aventais brancos. Eram as donas e as cozinheiras, serviam à mesa e
atendiam ao balcão. Tinham cabelos estupendaços, louros, armados com permanentes e outros
tratamentos sofisticados de cabeleireiro. Eram simpáticas, educadas e quando falavam com os
clientes, percebia-se que eram montes de bem.
Graça pousou o garfo no seu prato de bacalhau espiritual.
— É só uma pergunta — disse Isabel, antes de enfiar na boca meio peixinho da horta.
— Ah! — respirou fundo. — Por momentos, pensei que estivesses em apuros.
— Que disparate, não!
— Hum... — disse Graça, entre garfadas. — Porque é que perguntas isso?
— Nada — encolheu os ombros. — Ontem fui ao cinema.
— E?...
— E pareceu-me ver o teu marido.
Graça pousou novamente os talheres.
— Estás a assustar-me outra vez.
— Calma, Graça.
— Calma? Isabel, o que é que estás a querer dizer-me?
— Nada! Não é nada disso que estás a pensar. Só que vi um tipo parecido com o teu marido, e
ele estava com uma miúda toda boazona, e eu pus-me a pensar...
— A pensar o quê?
— A pensar que... — hesitou — olha, se visses o meu marido com uma boazona, contavas-
me?
— Isabel! — censurou-a.
— Não, a sério, contavas-me?
— É claro que contava — disse Graça, embora, para ser sincera, não tivesse nada a certeza
de que o fizesse. Contar uma coisa dessas a uma amiga poderia provocar danos irreparáveis no
seu casamento ou, pelo menos, abalá-lo.
— Alguma vez pensaste nisso? — perguntou Isabel.