melhor amigo que tinha ido para a cama com a mulher mais bonita do banco. Mesmo não sendo
Tó o género de homem capaz de enganar a mulher, mesmo não aprovando esse tipo de conduta,
saberia guardar segredo — nem sequer diria nada a Lili, que, se soubesse, perderia o respeito
pelo amigo e talvez até o denunciasse, pois, naturalmente, não entendia aquelas coisas de
homens — e, no fundo, Tó poderia achar a aventura de Zé uma loucura, mas uma aventura que
só a ele dizia respeito.
— Uma gaja nova?! — sussurrou espantado, olhando em redor para verificar se as mulheres
continuavam na cozinha.
— É uma miúda lá do banco.
— Coisa séria?
— Não, és parvo?!
— E que tal? É boa?
— É óptima. — Zé queria marcar pontos. Uma miúda nova era como um Mercedes novo ou
uma promoção. Fazia parte do sucesso. Ele estava na crista da onda pela primeira vez em
muitos anos e queria aproveitar ao máximo a sensação. De modo que descreveu-a a Tó, com
todos os pormenores físicos.
— É um sonho — rematou, abanando a cabeça de olhos fechados e um grande sorriso.
Entretanto, Quico agarrara Antoninho pelo pescoço, e estava a esganá-lo, com satisfação
mórbida, na outra ponta do jardim.
— Quico! — gritou Zé. — Larga o Antoninho!
— Mas ele está a chatear-me, pai — protestou Quico.
— Não me interessa — ralhou Zé. — Larga-o, já.
Quico soltou o pescoço de Antoninho, que começava a ficar azul.
— Não voltas a fazer isso!
— Deixa-os lá — disse Tó, levado pela displicência do uísque. — O miúdo tem de aprender
a defender-se sozinho.
— Não deixo nada, que ele mata-o. — E de facto, Antoninho inspirou uma enorme golfada de
ar e só não começou a chorar de aflição por ser orgulhoso de mais para dar parte de fraco.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1