continuasse sob o domínio da minoria branca que não tencionava regressar a
Portugal. A FRA tinha uma boa capacidade de financiamento e contava com
as suas tropas de choque. Ao que se dizia, fora a FRA quem ateara o rastilho
da violência em Luanda, em Julho do ano anterior, executando o taxista
branco no Bairro da Cuca para culpar os negros. A cidade acordara então com
a notícia dos ataques dos ultras aos negros que vinham dos musseques para
trabalhar e foram emboscados e espancados na Avenida do Brasil. Nas
quarenta e oito horas seguintes, Luanda caiu num pandemónio assustador. As
armas saíram à rua sem controlo, fizeram-se manifestações ilegais e pouco
pacíficas frente ao Palácio do Governo, houve confrontos com a tropa,
milícias vingativas circularam em táxis e atacaram inocentes ao acaso,
tomaram os musseques de assalto, um autocarro civil foi crivado de balas, as
acções violentas generalizaram-se e, quando finalmente as hordas assassinas
se cansaram, o saldo da balbúrdia era de cinquenta negros mortos e várias
centenas de feridos. Depois disso, nunca mais houve sossego.
O início das hostilidades foi unanimemente atribuído à FRA, mas, por outro
lado, ninguém teve conhecimento de uma discreta reunião, semanas antes, no
Colégio Lisboa, perto do hospital militar, que juntou um pequeno grupo de
portugueses representativos da sociedade branca — professores, padres,
médicos, enfim, cidadãos exemplares, moderados, credíveis, influentes — e
um enviado pessoal de Agostinho Neto. Este homem da confiança do líder do
MPLA avisou então que os ultras brancos, de direita, estavam a preparar
acções violentas com o objectivo de criar um clima de revolta contra os
negros; e o mais intrigante é que ele anunciou que iria acontecer em Luanda
exactamente aquilo que se passou um mês e um dia mais tarde: a morte de um
branco, a vingança. Na altura preparava-se o campeonato do mundo de hóquei
em patins — que não chegou a realizar-se devido à explosão de violência — e
havia muitos estrangeiros na cidade. Os ataques aos negros foram, portanto,
bem propalados por esse mundo fora. E, finalmente, trinta mil pessoas
deixaram Luanda no mês seguinte, dando início ao êxodo dos portugueses. A
quem aproveitou o homicídio do taxista, quem caiu na esparrela de quem?
Um espião do MPLA descobrira os planos da FRA, ou esta mordera o isco do
movimento de libertação? Era impossível dizer.
De qualquer modo, do que não havia dúvida era de que a FRA era liderada
por um bando de conspiradores amadores e, numa noite de Outubro, as tropas
do MFA foram de casa em casa acordar os seus dirigentes como se pescassem
à linha. Prenderam-nos sem esforço e enfiaram-nos no avião para Lisboa com
bilhete só de ida. Mas o mais patético foi que, no entusiasmo das prisões, o