que se dizia, sem experimentar grande resistência e levando tudo e todos à
frente; e que a FNLA vinha por aí abaixo com uma coluna invencível, a
perder de vista. Estariam todos às portas da capital, ali a escassos quilómetros,
a afiar as catanas, só à espera de que os portugueses se fossem embora para
entrarem sem pedir licença e mergulharem a cidade num banho de sangue
maior do que aqueles de que falava a bíblia. Nada disto era certo,
evidentemente, mas também não se podia garantir o contrário e, como a alma
humana tendia sempre a preparar-se para o pior, as pessoas imaginavam
cenários apocalípticos, o que trazia a cidade num ambiente de nervos, numa
tensão quase insustentável, como se fosse um barril de pólvora e pudesse
explodir a qualquer momento. E, com isto tudo, Patrício não tinha mãos a
medir, passava o tempo a trabalhar, a correr atrás das notícias, a dormir com a
cabeça em cima da secretária, e só ia a casa para tomar um duche, se houvesse
água, e trocar de roupa. Algures no meio desta azáfama, a sua última
namorada pusera-o na rua, muito justamente, porque ele não lhe ligava
nenhuma e só a mantinha por conveniência, porque lhe dava jeito ter uma
base de apoio. Mas a namorada, cansada do seu oportunismo, farta de estar
sozinha, assustada com a perigosa instabilidade que se vivia, pôs-lhe as malas
à porta, trancou o apartamento e foi viver com os pais.
Patrício viu-se na contingência de procurar outro pouso. Mas não se
atrapalhou, não era novidade nenhuma, a sua vida pessoal sempre fora
caótica. Um colega apareceu-lhe com um apartamento vazio e ele aproveitou,
já que, desta vez, nem a sua namorada de recurso o aceitou, por despeito.
Tinha vinte e quatro anos e era a mulher mais bonita do Tamar, o bar de
alterne na Ilha de Luanda, outrora frequentado pelos portugueses abonados da
alta sociedade. A rapariga, uma estonteante mulata de olhos verdes, com o seu
metro e setenta e muitos, exibia atributos de espantar o mais céptico dos
homens e deixava atrás de si uma legião de apaixonados. De tal modo que
todos os meses despachava um rol de propostas de casamento. Contavam-se
dela histórias extraordinárias, como a de um magnate americano do petróleo,
solteirão de quase sessenta anos, que teria gastado milhões num ninho de
amor com vinte quartos em Fort-de-France, na Martinica, só para a receber
uma vez por mês. O homem mandava-lhe um jacto particular e dava-se a todo
este trabalho porque a amava mas não a conseguia convencer a largar a vida
de alterne para se casar com ele. Em contrapartida, ela vivia apaixonada por
Patrício, que nem casa tinha e muitas vezes, num passado não muito
longínquo, vivia no seu apartamento, à sua custa, e até para o tabaco lhe
cravava dinheiro. Ele largara-a para ir viver com a outra, sem uma explicação,
sem consideração, e só regressara ao Tamar seis meses depois, disposto a
derreter-lhe o coração com o seu encanto, a enfeitiçá-la com a sua alegria de