O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Antero ocupava um lugar influente entre os militares do MFA e não havia
ninguém com poder no exército a quem ele não tivesse acesso, assim como
dificilmente lhe escaparia qualquer informação digna de nota que, por aqueles
dias, andasse a circular entre as altas esferas de Luanda. Era por isso que
Regina precisava tanto de Antero, porque ele poderia pressionar o MPLA, ou,
pelo menos, conseguir que alguém mais bem colocado o fizesse. E era
também por isso que Regina achava que Antero não fora totalmente sincero
com ela. Patrício contara-lhe que fizera alguns telefonemas para as suas
fontes no MFA. Regina sabia que o nome do capitão não fazia parte da lista
do amigo, mas, de qualquer modo, como é que Antero não estava a par do
desaparecimento de Nuno, tendo em conta que Patrício levantara a lebre e que
o avião de Nuno, carregado de armas, explodira na placa de estacionamento
do aeroporto? Mais, todos os oficiais que Patrício contactara tinham-lhe
respondido que desconheciam o assunto. Ora, não se tratava exactamente de
um caso discreto, mesmo com a cidade virada do avesso não explodiam
aviões todos os dias e, tendo em conta que o aeroporto era um dos últimos
lugares estratégicos em mãos portuguesas, não era credível que o comando
militar tivesse deixar passar o assunto em branco sem o investigar. Apesar
disto tudo, Antero mostrara-se surpreendido e fingira que não sabia de nada.
Mentira e agora Regina perguntava-se porquê.


Nessa noite, o telefone tocou em casa de Patrício. Ele foi atendê-lo, disse
duas ou três frases curtas, passou-o a Regina.


— É para ti — anunciou.
— Para mim? — estranhou.
— Sim.
— É o Antero?
— Não.
— Então?
Patrício meneou a cabeça em silêncio, esticou-lhe o auscultador. Ela abriu-
lhe os olhos, veemente, interrogativa. Ele encolheu os ombros, pousou o
telefone, voltou-lhe as costas e saiu da sala. Regina foi atender, era o
comandante da TAP, o seu cavaleiro andante , bem-disposto e bem-falante.
Hoje, porém, contido no tom, consciente do estado de espírito dela. Tinha
uma missão: convencê-la a regressar a Lisboa com ele, no dia seguinte.

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