pernas esticadas, uma sobre a outra. Tinha um sorriso que desapareceu ao
ouvir aquilo, arregalou muito os olhos espantados.
— Sacanice é dizeres-me uma coisa dessas — comentou, tenso.
Regina parou um instante, a tomar consciência do que acabava de dizer,
notando a expressão ofendida dele.
— Desculpa — murmurou, tentando dissipar a ofensa num suspiro cansado.
— Já nem sei o que digo.
Ele aceitou o pedido de desculpas em silêncio, suavizou a voz.
— Regina — disse —, amanhã é a tua última oportunidade de saíres sem
problemas. Depois disso, não sei. Dentro de alguns dias, esta cidade vai
tornar-se um pandemónio e, sem a tropa portuguesa por cá... — abanou a
cabeça lentamente, pôs uma expressão grave —, não vai ser seguro
continuares em Luanda. Eu acho que deves pensar nisso bem, deves lembrar-
te de que tens um filho em Lisboa e, na minha opinião, o melhor que tens a
fazer é ires-te embora nesse avião.
Era um conjunto de boas razões para Regina reflectir, de facto, mas ela não
precisou nem de um segundo para lhe dar uma resposta definitiva.
— Como eu acabei de dizer ao telefone, não vou a lado nenhum sem o
Nuno.
Patrício fechou os olhos e apertou a cana do nariz com dois dedos, enquanto
digeria a decisão dela.
— Se é essa a tua decisão — acabou por dizer —, cá estarei para te ajudar
no que puder.