O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Para começar, quero que sejas sincero comigo.
— Mas eu estou a sê-lo.
— Seres sincero implica não me tratares como uma idiota.
— Eu nunca...
— Tu estás a ver se me enganas.
— Não estou tal!
— Ai isso estás!
— Como é que podes dizer uma coisa dessas?
— Não me lixes, Antero. O que é que tu sabes, que eu não sei?
— Tudo bem — irritou-se ele, desejoso de se libertar da pressão.
— Queres saber a verdade?
— Já não era sem tempo.
— A verdade é que o Nuno andava a traficar armas para a UNITA.
— Porra, diz-me qualquer coisa que eu não saiba.
Ele olhou-a de soslaio, perplexo, afinal já sabias e eu aqui a fazer figura de
parvo, dizia a sua expressão irritada.


— Se calhar — prosseguiu, ressentido — também já sabes para quem ele
trabalhava.


— Para quem?
— Para um tipo chamado Silva Pinho.
Regina suavizou a tensão com um sorriso conciliador. Agora, que estavam a
chegar a algo de concreto, já podia passar-lhe a mão pelo pêlo.


— Vês? Isso não sabia — disse, descongelando a voz, muito mais
simpática. — E quem é esse Silva Pinho?


— É um dirigente da FRA, que estava convencido de que ainda ia a tempo
de mudar o curso dos acontecimentos a favor da UNITA. — Regina levantou
uma sobrancelha.


— Estava? Pelo que tenho ouvido, daqui a uns dias quem vai entrar pela
porta grande do Palácio do Governo é a FNLA, de mão dada com a UNITA.
— Antero encolheu os ombros, desvalorizando o que ela tinha ouvido dizer.


—   Até pode    ser que aconteça    —   respondeu.  —   Mas isso    não é   problema
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