metralhadora de tripé, havia de tudo um pouco, enfileirado de parede a
parede. O homem sentado soltou um derradeiro ronco, abriu os olhos e
espantou-se com a presença de uma mulher branca ali à sua frente.
Aparentemente, só agora tomava consciência da presença deles, porque se
levantou num salto improvável e, bolas, pensou Regina, é tão grande como o
outro!
— Xê! Quem são estes madiés?!
— Este é jornalista dos Emissora, ela é pula — respondeu o outro, a
esfregar a cabeça, a abrir a boca num bocejo.
— Tu não tem juízo mesmo — exaltou-se o camarada da esquerda. —
Porque deixaste eles entrar?
— Ué! Tás armado em quê? Eu não deixei, eles é que entraram.
Estavam nesta discussão quando surgiu o comandante a apertar a braguilha,
vindo do corredor. Era mais velho, mais baixo e muito mais gordo do que os
soldados. Estacou, surpreendido.
— Quem são estes? — perguntou.
— Sou jornalista da Emissora, camarada — adiantou-se Patrício, tentando
tomar conta da conversa. Mas o chefe lançou-lhe um olhar reprovador e
repetiu a pergunta como se não tivesse acabado de ouvir a resposta.
— Quem são esta gente?
— Este é jornalista dos Emissora, ela é pula — respondeu o soldado da
direita, exactamente como havia respondido ao camarada da esquerda, mas
desta vez apontando para cada um dos nomeados, não vá o chefe ficar
confuso com esta multidão, pensou Regina, exasperada com tanta estupidez.
— Vejas lá antão se não vos disse que não quero civis nos interiores das
instalações? — ralhou-lhes. — Estes gajo és mesmo estúpido.
E os outros cravaram os olhos nas botas da tropa, acabrunhados com a
desanda do chefe. Este virou-se para Patrício e perguntou-lhe, antão, o que é?
— Viemos por causa do prisioneiro — respondeu.
— Qual prisioneiro?
— O pula que o chefe tem aí na cadeia — disse Patrício, apontando com o
queixo para a porta atrás do chefe.
— Não tenho prisioneiro nenhum. Vai embora — retorquiu ele, fazendo um
gesto aborrecido, que deu a ideia de estar a enxotar uma mosca.