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Alguns dias depois da inauguração, Cristiane partiu em viagem, mais uma vez para o Rio de
Janeiro, que era para onde costumava voar agora. Encarou o regresso ao trabalho com optimismo,
pensou que lhe faria bem sair de Lisboa para desanuviar. O diálogo com João Pedro tornara-se
insensato e, em boa verdade, ela não sabia o que pensar. Por fim, confrontara-o com a mentira que
lhe dissera sobre Carol. Fora a casa dele e acusara-o sem delongas, e a resposta fora
desconcertante.
— Tens razão, menti-te, desculpa.
— Mas, porquê? Estás interessado nela?
— Não se trata disso.
— Então, trata-se de quê?
— Trata-se do destino.
— Estás a gozar comigo?
— Não, eu acredito no destino.
— Não estou a perceber.
— O encontro com Carol no Rio, quando a conhecemos?
— Sim.
— Já pensaste que podia ter acontecido um milhão de incidentes que nos desviassem dela, mas,
ainda assim, cruzámo-nos com ela porque estávamos destinados a estar naquele restaurante, naquela
noite, tal como ela.
— E o que é que isso tem que ver com a noite da inauguração? Não foi nenhuma circunstância
mística, tu contrataste-a!
— Tecnicamente, não a contratei, foi o André. E repara, só lhe disse para a contratar porque o
fotógrafo habitual dele não estava disponível. Já pensaste nisso? Não é incrível?!
— O que é que há de incrível nisso?
— Nós conhecermos uma fotógrafa e, logo a seguir, o fotógrafo habitual do André não está
disponível. Logo ele, que nunca lhe falha! Não pode ser coincidência.
— Claro que é, e se não a tivesses conhecido o André teria arranjado outro fotógrafo qualquer!
— Mas foi ela que se cruzou connosco, portanto, porquê procurar outro se tínhamos a Carol? Estás
a ver? Era lógico optar por ela. Estava destinado a ser assim.
— Estás a dizer que há uma força oculta, uma qualquer entidade superior, a conspirar para a
empurrar para a tua vida?
— Para a nossa vida.
— Para a nossa não, que eu não faço nada por isso, dispenso-a da minha vida.
— Mas ela impõe-se na tua vida por meu intermédio.
— Ah, que bom. Queres parar com essa merda?!